A American Eagle, marca de moda, se viu no meio de uma baita polêmica após o lançamento de sua campanha publicitária com a atriz Sydney Sweeney. A controvérsia explodiu na semana passada, e a empresa resolveu se pronunciar oficialmente nas redes sociais nesta sexta-feira (1º). A declaração, pra lá de sucinta, foi direta: “A campanha ‘Sydney Sweeney tem um jeans ótimo’ é, e sempre foi, sobre jeans. O jeans dela. A história dela.” A marca ainda acrescentou: “Continuaremos a celebrar como todos vestem American Eagle com confiança e do seu próprio jeito. Jeans ótimos parecem uma boa ideia para todos.” Mas, na real, a coisa não tá tão simples assim…
A campanha, que usa imagens sensuais de Sydney, criou um trocadilho em inglês entre “jeans” e “genes”, com a pronúncia similar. Aí começou a confusão. Muita gente viu na campanha uma apologia à objetificação feminina, além de racismo e até mesmo a defesa de ideias eugenistas. Isso, gente, é sério!
Pra entender o tamanho da encrenca, vamos voltar um pouco. Sydney, com sua beleza clássica – loira, olhos azuis, corpo escultural – se encaixa perfeitamente naquele padrão estético que a gente sabe, infelizmente, ainda é imposto como ideal de beleza feminina. Aí, a campanha joga com esse estereótipo. O trocadilho entre “jeans” e “genes” sugere que ela não só veste bem jeans, mas que também teria uma genética “superior”. Olha só que absurdo! Cientificamente, isso não faz o menor sentido. Não existe superioridade genética!
A campanha lembra, e muito, um comercial polêmico da Calvin Klein dos anos 80, estrelado por Brooke Shields, aos 15 anos. Naquele comercial, também sensual, Brooke falava sobre genes e o “código genético”. Recebeu muitas críticas na época, por sexualizar uma criança. A American Eagle, mais de quatro décadas depois, tentou reciclar o conceito, usando uma atriz adulta – Sydney tem 27 anos – mas acabou criando outras polêmicas.
A associação entre “jeans” e “genes” foi interpretada por muitos como uma referência à eugenia, aquela teoria pseudocientífica que prega a melhoria genética da população e que teve um papel terrível no nazismo, com suas implicações racistas e capacitistas. Durante o regime de Hitler, milhares de pessoas foram esterilizadas ou mortas por não se encaixarem no perfil “ariano” – branco, de olhos claros e sem deficiência.
Na campanha, Sydney diz: “Os genes são passados de pais para filhos, muitas vezes determinando características como cor do cabelo, personalidade e até mesmo a cor dos olhos. Meus genes são azuis”. A frase, que pode se referir à cor dos olhos dela e à cor do jeans, também foi associada à expressão racista “sangue azul”, usada para se referir a brancos da nobreza na Idade Média. E logo em seguida, o narrador diz que ela tem “um jeans ótimo”, reforçando o trocadilho. Me parece que a American Eagle se meteu numa fria danada!
Mas a polêmica não para por aí, não. Além do racismo e da eugenia, a campanha também foi acusada de machismo. Em todas as imagens e vídeos, Sydney aparece de forma bastante sensual, com seus seios e quadris em destaque, em poses provocantes. Seu talento como atriz fica em segundo plano, ofuscado pela imagem erotizada. Seu corpo virou, simplesmente, um instrumento de marketing. A marca está sendo acusada de objetificar mulheres, o que soa bastante hipócrita, considerando que a campanha diz apoiar a conscientização sobre violência doméstica, uma causa pela qual Sydney se declara apaixonada. A campanha promete que 100% da renda da venda de “The Sydney Jean” seria doada para a Crisis Text Line, uma organização que oferece suporte gratuito em saúde mental.
O lançamento da campanha, em meio a uma onda ultraconservadora nos EUA, a tornou alvo de críticas de grupos progressistas, sendo considerada “anti-woke”. Doja Cat, por exemplo, fez um vídeo no TikTok debochando da campanha, que já acumula mais de 3,3 milhões de curtidas. A comediante Caroline Baniewicz também entrou na onda de piadas.
Apesar da enxurrada de críticas nas redes sociais, a campanha tem sido um sucesso financeiro. Segundo a Vanity Fair americana, as vendas da American Eagle cresceram 10% após o lançamento, gerando cerca de 200 milhões de dólares. Ironia pura, né?
Fonte da Matéria: g1.globo.com