A relação entre Vladimir Putin e Donald Trump, outrora aparentemente amistosa, tá pegando fogo! Um importante jornal russo, o Moskovsky Komsomolets, cravou: uma colisão frontal é quase inevitável. A metáfora ferroviária, usada pelo tabloide, cai como uma luva: as “locomotivas” Putin e Trump estão em rota de colisão, acelerando sem dar sinal de frear.
De um lado, a “locomotiva Putin” avança a todo vapor com a “operação militar especial” – a guerra na Ucrânia. Putin não demonstra a menor vontade de acalmar os ânimos, de decretar um cessar-fogo. Do outro, a “locomotiva Trump” tá intensificando a pressão sobre Moscou. Ultimatos, ameaças de novas sanções, tarifas pesadas sobre parceiros comerciais da Rússia, como Índia e China… E, pra piorar, Trump anunciou o reposicionamento de submarinos nucleares americanos mais próximos da Rússia. Submarinos nucleares, gente! A coisa tá ficando séria. Olha só: na quarta-feira (6), ele assinou uma ordem executiva impondo uma tarifa adicional de 25% sobre as importações indianas, por causa da compra de petróleo russo pelo país.
Será que a Casa Branca tá mesmo em rota de colisão com o Kremlin? Ou a visita de Steve Witkoff, enviado especial de Trump, a Moscou, na semana passada, sinaliza um possível acordo? A gente não sabe ao certo.
No início do segundo mandato de Trump, a situação era bem diferente. Moscou e Washington pareciam alinhadas, numa aparente harmonia. Putin e Trump pareciam até no mesmo vagão, indo para o mesmo destino! Em fevereiro, os EUA apoiaram a Rússia na ONU, votando contra uma resolução europeia que condenava a ofensiva na Ucrânia. Houve até conversas sobre visitas mútuas entre os dois presidentes, com a possibilidade de um encontro a qualquer momento. Na época, o governo Trump pressionava a Ucrânia, não a Rússia, enquanto se desentendeu com aliados tradicionais, como Canadá e Dinamarca. Autoridades americanas criticavam abertamente a OTAN e líderes europeus – música para os ouvidos do Kremlin. Konstantin Blokhin, do Centro de Estudos de Segurança da Academia Russa de Ciências, declarou ao Izvestia em março: “A América tem mais em comum com a Rússia do que com Bruxelas ou Kiev”. Em abril, o mesmo jornal afirmava que os “trumpistas são revolucionários, demolidores do sistema”, acrescentando: “Só podemos apoiá-los. A unidade do Ocidente não existe mais”.
Steve Witkoff, o enviado de Trump, virou um visitante frequente em Moscou. Em pouco mais de dois meses, ele esteve lá quatro vezes, passando horas conversando com Putin. Putin até presenteou Witkoff com um retrato de Trump, que, segundo relatos, deixou o presidente americano “claramente tocado”. Mas Trump queria mais que um quadro: ele queria um cessar-fogo incondicional na Ucrânia.
A frustração de Trump só aumentou. Putin, aparentemente confiante na sua posição militar, hesitou em parar os combates, mesmo reafirmando o compromisso com uma solução diplomática. Trump, então, ficou cada vez mais irritado. Ele condenou os ataques russos à Ucrânia, chamando-os de “revoltantes” e “deploráveis”, e acusou Putin de “falar muitas bobagens”. Em julho, ele deu um ultimato de 50 dias para Putin encerrar a guerra, ameaçando com sanções e tarifas. Depois, reduziu o prazo para 10 dias, que venceu na sexta-feira (8). As expectativas de um acordo eram baixas, e, até agora, Putin não cedeu.
Nina Khrushcheva, professora de Assuntos Internacionais da Nova Escola, em Nova York, acredita que Putin não leva Trump a sério, por conta das mudanças constantes nos prazos e das declarações contraditórias. Ela acha que Putin vai “lutar pelo tempo que puder”, a menos que a Ucrânia ceda às condições russas. Para ela, Putin “se senta no Kremlin achando que está realizando os sonhos dos czares e de secretários-gerais como Stalin”.
Apesar do cenário sombrio, uma colisão não é inevitável. Trump se considera um grande negociador e, aparentemente, não desistiu. Witkoff conversou com Putin na quarta-feira (6), e no dia seguinte, o Kremlin anunciou que Trump e Putin concordaram em se reunir nos “próximos dias”, possivelmente nos Emirados Árabes Unidos. Um funcionário da Casa Branca, porém, disse à CBS que nenhuma data ou local foram definidos. Na quarta, Trump disse haver uma “boa chance” de encontro com Putin e Zelensky para discutir o fim da guerra. Zelensky apoiou a ideia, enquanto Putin disse que um encontro com o líder ucraniano estava “muito longe” de acontecer.
Trump admitiu à BBC que Putin o decepcionou após as visitas de Witkoff, mesmo após conversas iniciais otimistas. Agora, ele adota um tom mais cauteloso. O Kremlin descreveu as conversas como “construtivas”, enquanto Zelensky disse ter conversado com Trump sobre a visita de Witkoff, com a participação de líderes europeus. Zelensky alertou que a Rússia só buscaria a paz se começasse a ficar sem dinheiro.
Antes da posse, Trump disse que encerraria a guerra em um dia. Três anos e meio depois do início da invasão russa, e após três rodadas de negociações em Istambul, a guerra continua. As exigências de Moscou são vistas como uma capitulação da Ucrânia. Putin ainda mantém suas exigências maximalistas sobre território, neutralidade e tamanho do exército ucraniano. Trump quer um acordo. Putin quer a vitória. O futuro da relação entre eles, e o destino da Ucrânia, ainda são incertos.
Fonte da Matéria: g1.globo.com