Hermeto Pascoal, gênio da música brasileira, que nos deixou no último sábado, 13 de setembro, aos 89 anos, no Rio de Janeiro, teve sua genialidade celebrada em grande estilo por dois gigantes da MPB: Guinga e Aldir Blanc. A homenagem? A deliciosa canção “Chá de Panela”, um baião inusitado que reflete a criatividade explosiva do mestre alagoano.
A música, gravada pela talentosa Leila Pinheiro em seu álbum “Catavento e Girassol” (1996), ganhou nova vida três anos depois na interpretação de Alceu Valença no disco “Suíte Leopoldina” (1999), de Guinga. Mas a verdadeira magia está na letra de Aldir Blanc, que, com maestria, captura a essência da musicalidade única de Hermeto. Sabe? Aldir Blanc pintou um quadro perfeito da visão musical de Hermeto, que, olha só, via música em tudo!
A letra de “Chá de Panela” é, na real, uma ode à genialidade de Hermeto. Dá uma olhada:
“Hermeto foi na cozinha
Pra pegar o instrumental
Do facão à colherinha, tudo é coisa musical
Trouxe concha, escumadeira, ralador, colher de pau
Barril, tirrina e peneira, tudo é coisa musical
Me convidou pra uma pinga
Meu não pesou com dó
Piscou um olho só
Disse que eu tiro da seringa
Que home que não bebe e nega mocotó
Acaba quenga em vez de Guinga
Se veste de filó, afrouxa o fiofó
E o ferrão já nem respinga
Encolhe feito um nó e vai ficar menó
Assoprou numa chaleira
Bateu numa bacia
Jesus, Ave Maria, era uma sinfonia!
Secador e geladeira entraram no compasso
Dançou a farinheira, saleiro no pedaço
E tudo era coisa musical
Funil mandando: oi!
Fogão gritando: Uau!
Fez um chocalho de arroz e outro de feijão
No talo do mamão
Cortou a fruta que já vi
Toca mais doce, irmão
Direto ao coração
Assoprou numa chaleira
Bateu numa bacia
Jesus, Ave Maria, era uma sinfonia!
Secador e geladeira entraram no compasso
Dançou a farinheira, saleiro no pedaço
E tudo era coisa musical
Funil mandando: oi!
Fogão gritando: uau!
Nesse chá de panela que eu senti a vocação
Vi que música é tudo que avoa e rasga o chão
Foi Hermeto Pascoal que, magistral, me deu o dom
De entender que do lixo ao avião em tudo há tom
E que até pinico da bom som
Se a criação é mais
Se o músico for bom
Me convidou pra uma pinga
Meu não pesou com dó
Piscou um olho só
Disse que eu tiro da seringa
Que home que não bebe e nega mocotó
Acaba quenga em vez de Guinga
Se veste de filó, afrouxa o fiofó
E o ferrão já nem respinga
Encolhe feito um nó e vai ficar menó
Assoprou numa chaleira
Bateu numa bacia
Jesus, Ave Maria, era uma sinfonia!
Secador e geladeira entraram no compasso
Dançou a farinheira, saleiro no pedaço
E tudo era coisa musical
Funil mandando: oi!
Fogão gritando: uau!
Nesse chá de panela que eu senti a vocação
Vi que música é tudo que avoa e rasga o chão
Foi Hermeto Pascoal que, magistral, me deu o dom
De entender que do lixo ao avião em tudo há tom
E que até pinico da bom som
Se a criação é mais
Se o músico for bom”
Aldir Blanc, com sua poesia impecável, resume a genialidade de Hermeto: “do facão à colherinha, tudo é coisa musical”. Incrível, não é? A música, para Hermeto, transcendia os instrumentos tradicionais; ela pulsava em cada objeto, em cada som do cotidiano. Essa é a herança inesquecível que Hermeto Pascoal deixa para a música brasileira. Um legado que ecoará para sempre.
Fonte da Matéria: g1.globo.com