Desde a invasão russa à Ucrânia em 2022, navios-tanque da chamada “frota fantasma” de Putin vêm abastecendo o Brasil com combustíveis russos. Uma investigação de quatro meses da BBC News Brasil revelou que esse fluxo continua, mesmo com as sanções econômicas impostas por EUA, Reino Unido e União Europeia. Olha só: a identidade das empresas importadoras permanece em segredo, protegida pelo sigilo fiscal. Mas a gente conseguiu rastrear os principais portos de destino: Paranaguá e Santos.
A “frota fantasma”, nome usado por especialistas e autoridades ocidentais, é um grupo de navios-tanque que exporta combustíveis russos, usando táticas para esconder seus verdadeiros donos e rotas. Isso é incrível, né? Eles estão sob sanções internacionais, justamente por ajudar a driblar essas mesmas sanções e financiar a guerra na Ucrânia.
Nossa investigação identificou 36 navios dessa frota na costa brasileira. Cruzando dados de operações portuárias com listas de navios sancionados, descobrimos que eles transportaram 17% de todo o combustível russo importado pelo Brasil no período. Como o Brasil não adotou as sanções, virou um porto seguro para a frota de Putin, sabe?
Os riscos? Enormes! Especialistas apontam perigos econômicos, diplomáticos e ambientais. Alexander Turra, professor da USP, destaca os riscos ambientais: “Os navios da frota fantasma são mais antigos, muitas vezes sem os seguros necessários, e seus donos são quase impossíveis de rastrear. Um acidente? A cobrança pelos prejuízos seria um pesadelo!”. Ele ainda lembra o vazamento de 2019: “O navio responsável navegava com o AIS desligado, e nunca descobrimos os culpados”.
No campo diplomático e econômico, Benjamin Schmitt, da Universidade da Pensilvânia e pesquisador do CEPA (Centre for European Policy Analysis), afirma: “Qualquer empresa negociando com esses navios está financiando a invasão ilegal da Ucrânia”. Ele alerta que o intenso fluxo de combustível russo e a recepção de navios da “frota fantasma” podem transformar o Brasil em alvo dos EUA.
A maioria das atracações ocorreu antes das sanções, mas pelo menos seis navios sancionados chegaram ao Brasil após a imposição das penalidades, o registro mais recente em julho. Algumas embarcações, inclusive, navegam com o transponder desligado, aumentando os riscos de colisões. A situação é tão grave que pode atrair sanções a países como o Brasil, assim como aconteceu com a Índia em agosto de 2024, sob o governo Trump.
A Rússia fornece cerca de 60% do diesel importado pelo Brasil e, desde 2023, é o principal fornecedor. Profissionais do setor portuário, em off, disseram que o governo brasileiro nunca orientou os portos a restringir a chegada de navios suspeitos. A Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), a Marinha e a Polícia Federal negaram ter recebido orientações para impedir a atracação desses navios. O Palácio do Planalto e a Embaixada da Rússia não responderam aos questionamentos.
**A Origem da “Frota Fantasma”**
A “frota fantasma” surgiu após o G7 (EUA, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e União Europeia) estabelecer um teto de preço para o petróleo russo (US$ 60 por barril). A ideia era reduzir os recursos da Rússia e pressioná-la a parar a guerra. Ao mesmo tempo, países europeus restringiram as compras de combustíveis russos, que antes chegavam via oleodutos.
A solução russa? Criar uma frota para escoar a produção para países que não aderiram às sanções, como Brasil, Índia, Turquia e China. Estimativas apontam entre 500 e 600 petroleiros, muitos em mau estado e sem seguros adequados.
Schmitt explica o uso de bandeiras de conveniência para dificultar o rastreamento dos verdadeiros donos. As empresas ficam em paraísos fiscais, mudam de nome frequentemente, e as autoridades ocidentais enfrentam dificuldades para acompanhar. “É um desafio acompanhar a quantidade e a complexidade dessas estruturas empresariais”, afirma Schmitt.
Turra destaca outra característica: muitos navios navegam com o AIS desligado, dificultando o rastreamento e permitindo ações ilegais. A partir de 2024, EUA e países europeus passaram a sancionar os navios diretamente.
**A “Frota Fantasma” no Brasil**
O primeiro navio da “frota fantasma” chegou ao Brasil em 17 de agosto de 2022: o Universal, com bandeira da Libéria, no Porto de Santos. Entre fevereiro de 2022 e junho de 2025, o Brasil recebeu 237 navios transportando combustível da Rússia; 36 deles estão em listas de sanções.
A chegada dessa frota acompanhou o aumento das importações de combustível russo, principalmente diesel. Em 2022, foram US$ 100 milhões; em 2023, US$ 4,5 bilhões; em 2024, US$ 5,4 bilhões; e até julho de 2025, US$ 3,07 bilhões. A Rússia se tornou o maior fornecedor de diesel importado.
Esse aumento se deu por fatores econômicos e políticos. A guerra na Ucrânia elevou os preços internacionais de combustíveis, mas a Rússia oferecia preços mais baixos. O governo Bolsonaro, buscando preços baixos para evitar desabastecimento e aumento da impopularidade, buscou o diesel russo. Bolsonaro chegou a anunciar a chegada de um navio com diesel russo, o NS Pride (rebatizado como Prosperity em 2024), que depois foi incluído na “frota fantasma” e sancionado pelo OFAC (Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros) e pela União Europeia.
As operações da “frota fantasma” se intensificaram no governo Lula, que também mantém laços diplomáticos com Putin e não adotou sanções. Lula inclusive visitou Putin em Moscou em 2025 e citou a importância do diesel russo para o Brasil.
A investigação da BBC News Brasil apontou os cinco terminais que mais receberam combustíveis da “frota fantasma”: a maioria das operações ocorreu antes das sanções, mas houve pelo menos seis casos de navios sancionados atracando no Brasil. Um exemplo é o Agni, sancionado pelo Reino Unido em 25 de novembro de 2024 e que atracou em Paranaguá em 1º de março de 2025. A Cattalini Terminais Marítimos, que recebeu o navio, afirmou ter atuado em conformidade com as leis da época e ampliado os controles posteriormente. Outro caso é o do Manta, sancionado pela União Europeia e que atracou em Suape em 9 de julho de 2025.
Do ponto de vista legal, os terminais brasileiros não violaram normas domésticas, segundo Turra e Zanella, professora da UFPE. O Brasil não é obrigado a aderir às sanções. Levi, do Crea, diz que as empresas brasileiras buscam os preços mais baixos. Porém, Schmitt alerta que empresas brasileiras que negociam com a “frota fantasma” podem ser alvos de sanções de EUA e países europeus. Turra concorda, afirmando que as empresas assumem um risco significativo.
A Cattalini, Ultracargo, Companhia Brasileira de Logística e Ageo Norte deram suas versões dos fatos ou se manifestaram em notas. A Autoridade do Porto de Santos e a Autoridade do Porto de Paranaguá afirmaram seguir as normas e dependerem da anuência de órgãos como a Receita Federal e a Marinha. A Marinha disse adotar medidas de monitoramento, mas não recebeu orientações específicas sobre os navios sancionados. A Receita Federal não respondeu.
**O Roteiro da “Frota Fantasma”: O Caso do Manta**
O navio Manta ilustra o funcionamento da “frota fantasma”: troca de nomes (High Strength para Manta), bandeiras (seis vezes entre 2022 e 2025), e proprietários. O AIS estava desligado desde 27 de junho de 2025, o que Turra considera extremamente perigoso. Valle, da Transatlântica Marítima, explica que o AIS pode ser desligado em momentos específicos, como o embarque na Rússia ou a troca de documentos da carga. O Manta era de uma empresa chinesa com endereço comercial na Suíça, e depois passou para uma empresa nas Ilhas Seychelles, no mesmo endereço de outra empresa dona de um navio também sancionado. A BBC News Brasil não conseguiu localizar as empresas. Outros navios que atracaram no Brasil após sanções: Sauri, Flora 1 e Jun Ma. A Antaq afirma utilizar
Fonte da Matéria: g1.globo.com