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80 Anos de Hiroshima: A Sombra da Bomba e a Luta Contra a Discriminação

Nesta quarta-feira (6), o Japão relembra os 80 anos da tragédia de Hiroshima. Olha só: 80 anos depois da bomba atômica, os sobreviventes, os *hibakusha*, ainda carregam as cicatrizes – e não só as físicas. A discriminação, essa sim, continua a assombrá-los. Em 6 de agosto de 1945, os EUA jogaram a bomba, matando cerca de 140 mil pessoas. Três dias depois, Nagasaki sofreu o mesmo destino, com mais 74 mil mortes. Esses foram os únicos ataques nucleares da história em tempos de guerra, um marco tenebroso da humanidade.

A vida desses sobreviventes mudou radicalmente. Eles foram, e ainda são, estigmatizados, marginalizados, tratados como párias. Matsuyoshi Ikeda, que tinha apenas 7 anos em 1945, conta a dificuldade que muitos *hibakusha* tiveram para arranjar emprego: “As empresas desconfiaram da gente, sabe? Achavam que a gente não seria funcionário confiável, por causa da radiação. A gente podia faltar muito por causa de doenças graves, como câncer ou leucemia”. Uma realidade cruel, né?

A discriminação atingiu, principalmente, as mulheres. Tomoko Matsuo, de 92 anos, relata: “Muitas sobreviventes nunca conseguiram se casar. Os homens tinham medo da radiação, achavam que a gente seria infértil ou que teria filhos doentes, com problemas de saúde”. Imagina a dor, a injustiça?

Mas a discriminação não para aí. Milhares de moradores de Hiroshima e Nagasaki, que estavam nas cidades nos dias dos ataques, não são oficialmente reconhecidos como vítimas. Por quê? Porque não conseguiram provar que estavam perto do epicentro da explosão, dentro do perímetro definido pelo governo. Para as autoridades, eles só “viveram a experiência”, mas não foram vítimas. Isso significa que eles não têm acesso aos mesmos cuidados médicos que os *hibakusha* oficialmente reconhecidos. Em ambas as cidades, isso é visto como uma “discriminação de Estado”, uma injustiça gritante.

“Essa discriminação geográfica não faz sentido!”, desabafa Shiro Suzuki, prefeito de Nagasaki. “Até pessoas a dois quilômetros do ponto de impacto foram afetadas pela radiação!”

Durante as cerimônias, os sobreviventes vão exigir o fim dessa discriminação. A Hidankyo, associação que reúne os *hibakusha* e recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2024, também se manifestará. Nagasaki, aliás, pressiona o governo há anos para resolver essa questão. Os sobreviventes estão envelhecendo, muitos com sérios problemas de saúde, e precisam de ajuda urgente.

A cerimônia de Hiroshima contou com representantes de 120 países e regiões, além da União Europeia. A França, por exemplo, enviou o número dois da embaixada. No entanto, potências nucleares como Rússia, China e Paquistão não mandaram representantes. Já o Irã, acusado de buscar armas nucleares, enviou um representante. O Japão, por sua vez, afirma que apenas notificou os países sobre o evento. Essa postura permitiu que a Palestina e Taiwan, não reconhecidas como países pelo Japão, participassem pela primeira vez.

“A existência de líderes que buscam aumentar o poder militar, inclusive com armas nucleares, dificulta a construção da paz mundial”, declarou o prefeito de Hiroshima, Kazumi Matsui, numa clara referência às guerras na Ucrânia e no Oriente Médio. Hiroshima, hoje uma metrópole de 1,2 milhão de habitantes, ainda carrega as marcas da tragédia. O Domo da Bomba Atômica, ruína metálica no centro da cidade, é um símbolo dessa dor.

Toshiyuki Mimaki, copresidente da Nihon Hidankyo, reforça a importância da lembrança: “É fundamental que muitas pessoas se reúnam aqui, pois as guerras continuam acontecendo pelo mundo”. A Nihon Hidankyo pede a eliminação das armas nucleares, baseando-se nos testemunhos dos *hibakusha*. “Espero que os representantes estrangeiros visitem o Museu Memorial da Paz e compreendam o horror daquela nuvem em forma de cogumelo”, disse Mimaki.

Nagasaki também espera um recorde de participantes este ano, incluindo a Rússia, pela primeira vez desde a invasão da Ucrânia em 2022. Mas a história recente também guarda um episódio marcante: no ano passado, a exclusão do embaixador de Israel das comemorações levou o embaixador dos EUA a boicotar o evento. Nagasaki explicou que a decisão foi por segurança, para evitar possíveis distúrbios. “Este ano, queremos que os participantes vejam a realidade da catástrofe nuclear”, declarou um representante de Nagasaki. A luta pela paz e justiça continua, 80 anos depois.

Fonte da Matéria: g1.globo.com