O presidente colombiano, Gustavo Petro, soltou o verbo contra os Estados Unidos. Em entrevista à BBC, ele classificou os ataques aéreos americanos contra supostos barcos de narcotráfico no Caribe como um “ato de tirania”, pura e simplesmente. A declaração veio na quarta-feira (24/9), em Nova York, durante a Assembleia Geral da ONU. Olha só a situação: o presidente Trump divulgou vídeos dos ataques, alegando que as embarcações pertenciam a grupos de narcotraficantes. Segundo informações, 17 pessoas morreram nesses ataques desde o início do mês.
Petro foi direto: caso investigações comprovem a morte de colombianos nesses ataques, deve haver processos criminais contra as autoridades americanas envolvidas. “Por que usar um míssil se é possível parar o barco e prender a tripulação?”, questionou o presidente. “Isso se chama assassinato, na real!”. Para ele, não se justifica qualquer perda de vidas em abordagens a embarcações suspeitas de tráfico. “Temos uma longa história de cooperação com agências americanas em apreensões marítimas de cocaína”, explicou Petro. “Ninguém morria antes. Não há necessidade de matar ninguém!”. Ele ainda reforçou que o princípio da proporcionalidade da força foi violado: “Usar qualquer coisa além de uma pistola é inaceitável”.
Os ataques, concentrados principalmente em águas internacionais próximas à Venezuela, segundo o governo Trump, geraram muita polêmica. Os EUA foram vagos nos detalhes sobre os alvos e vítimas. Inclusive, relatos sobre a presença de membros da gangue Tren de Aragua no primeiro barco atacado são contestados. Em Washington, parlamentares democratas cobraram explicações da Casa Branca sobre a legalidade dos ataques, considerados execuções extrajudiciais por especialistas da ONU.
A Casa Branca, por sua vez, respondeu aos comentários de Petro afirmando que Trump está “preparado para usar todos os recursos do poder americano para impedir que drogas inundem nosso país e levar os responsáveis à Justiça”. Mas Petro não se intimidou. Na entrevista, ele acusou o governo Trump de humilhar o povo colombiano e afirmou que nações sul-americanas não se curvam a “reis”.
A postura dura de Trump com a América Latina, intensificada desde seu retorno ao poder em janeiro, inclui uma grande operação de deportação e a designação de várias organizações de tráfico de drogas e grupos criminosos no México e na América Latina como organizações terroristas. Além do Tren de Aragua, o Cartel dos Sóis, supostamente liderado pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro e outras autoridades venezuelanas, também está na mira. Nos últimos dois meses, os EUA aumentaram significativamente sua presença militar no sul do Caribe, enviando navios de guerra, fuzileiros navais e marinheiros.
Petro e Trump já tiveram atritos no passado. Questionado sobre o risco de isolar ainda mais seu país, Petro virou o jogo: “Na verdade, quem está se isolando é Trump com sua política externa. Ele já me chamou de terrorista durante uma campanha presidencial!”.
Fonte da Matéria: g1.globo.com