De soteco a moqueca, a banana é muito mais que um simples acompanhamento no Espírito Santo. A fruta, seja in natura ou em receitas elaboradas, é protagonista na culinária e na economia do estado. No Dia Nacional da Banana, 22 de setembro, a gente celebra sua importância!
Quem chega de fora logo percebe: “Capixaba põe banana em tudo!” E não é exagero, não! A banana tá em tudo mesmo: de pratos salgados a sobremesas. Ela aparece na moqueca, no feijão tropeiro, em vinagretes, tortas, cucas… Até o “umbigo” da banana vira recheio de pastel! E tem ainda receitas tradicionais, como o soteco, um caldo de banana verde típico das comunidades quilombolas de Cariacica, na Grande Vitória. Isso mostra o quanto a banana tá ligada à cultura capixaba!
Essa relação afetiva e cultural se junta à força econômica da banana no Espírito Santo. Em 2024, a produção bateu a marca de mais de 426 mil toneladas, colhidas em 29,1 mil hectares. Isso representa quase 28 mil empregos e um movimento de mais de R$ 960 milhões por ano! Incrível, né?
De 78 municípios capixabas, 76 produzem banana. Só Vitória e Vila Velha ficam de fora. Os maiores produtores são:
🍌 Itaguaçu (46 mil toneladas)
🍌 Alfredo Chaves (44,8 mil toneladas)
🍌 Linhares (35,3 mil toneladas)
🍌 Iconha (34,8 mil toneladas)
🍌 Laranja da Terra (33,8 mil toneladas)
E sabe onde fica o maior polo de produção de banana orgânica do Brasil? Em Cariacica, pertinho da Grande Vitória! São 3 mil toneladas por ano!
Com essa produção toda, o Espírito Santo ocupa a oitava posição no ranking nacional de produção de banana. A fruta abastece o mercado interno (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) e também é exportada. Em 2024, foram 567,4 toneladas, gerando US$ 456,8 mil. A Argentina foi o principal destino. Nos primeiros oito meses de 2025, já foram exportadas 23,3 toneladas, rendendo US$ 26,8 mil.
A banana prata reina: segundo Alciro Lazzarini, extensionista do Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural), a produção capixaba se destaca pela predominância da banana prata (80%), seguida pela nanica (15%) e banana-da-terra (5%). “Temos mais de 20 variedades no estado!”, ressalta Lazzarini.
Tradicionalmente, a banana capixaba é cultivada em regiões de encostas, com solos apropriados, numa faixa que vai de João Neiva (Norte) a Mimoso do Sul (Sul). A produção geralmente utiliza tecnologia de baixo a médio nível, o que resulta em menor produtividade. Mas em Linhares, surgiu uma produção de alta tecnologia, com maior produtividade.
Cooperativa fortalece a produção: em Cariacica, a banana é o principal produto agropecuário. As três mil toneladas produzidas em 2024 representaram um aumento de 20% em relação ao ano anterior – um recorde!
Desde 2017, a Cooperativa da Agricultura Familiar de Cariacica (CAFC) tem sido fundamental para organizar a comercialização. “A gente precisava melhorar as vendas. Havia uma crise. Então, unimos os produtores para buscar mercado”, explica Davi Dutra de Barcelos, presidente da CAFC.
Hoje, são 347 cooperados atuando em 13 municípios, comercializando 200 toneladas por ano e faturando R$ 13 milhões em 2025. Os municípios são: Cariacica, Santa Leopoldina, Viana, Alfredo Chaves, Vargem Alta, Conceição do Castelo, São Roque do Canaã, Santa Teresa, Colatina, Itarana, Baixo Guandu, São Gabriel da Palha e Aracruz.
“Sem a cooperativa, a gente ficaria à mercê dos atravessadores. Agora garantimos preço justo e a certeza de venda”, avalia Davi. Em 2025, a cooperativa investe em uma fábrica que vai gerar cerca de 50 empregos em Cachoeirinha e região.
A história de Sérgio Boldi, produtor rural e cooperado da CAFC, exemplifica essa realidade. Ele planta banana orgânica há sete anos em Sabão (Cariacica). Em 2024, colheu 63 toneladas em seus dez hectares, com cerca de 12 mil pés de banana-prata. Este ano, espera uma queda na produção por causa do clima, mas mantém o otimismo.
A banana, segundo Sérgio, é sensível à falta de chuva e a ventos fortes. “A colheita é manual e a gente precisa de ajuda dos vizinhos e cooperados”, conta ele. A produção é contínua, com colheitas a cada 15 dias. “Plantou uma vez, você só vai conduzindo. Ela brota, cresce e dá de novo”, explica.
Parte da produção vai para a CAFC, outra parte para o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) de Cariacica e do estado. Sérgio abastece 31 escolas públicas, incluindo a escola das filhas. “A gente fica muito satisfeito em saber que as crianças se alimentam com um produto tão bom e saudável”, afirma ele.
Então, capixaba põe banana em tudo mesmo? A resposta é sim, mas com nuances! Para o historiador e professor da UFBA, Fernando Santa Clara, a banana integra a identidade cultural do Espírito Santo, principalmente no interior. A relação com a fruta se intensificou com o aumento da produção, inicialmente para consumo interno.
Em Cariacica, já no século XIX, havia registros de alto consumo, inclusive em comunidades quilombolas. “Eles já tinham conhecimento da banana desde seus ancestrais na África”, destaca Santa Clara. O soteco, por exemplo, foi popularizado por eles. João Bananeira, personagem folclórico do Carnaval de Congo de Máscaras de Cariacica, simboliza essa relação cultural.
A ideia de colocar banana em “todos” os pratos é mais recente, surgindo no início dos anos 2000. A moqueca de banana, por exemplo, se tornou um fenômeno. Hoje, alguns pratos típicos com banana:
🍌 Moqueca de garoupa salgada com banana-da-terra (utilizada para equilibrar o sal)
🍌 Cuca de banana (bolo comum na região serrana)
🍌 Torta capixaba e recheio de pastéis (com o “umbigo” da banana)
🍌 Feijão tropeiro (adaptado com banana no ES)
Para Santa Clara, a abundância da banana, aliada à criatividade capixaba, resultou em uma integração da fruta à cultura local, de forma inusitada e saborosa.
Banana também na Ales: dois projetos de lei na Assembleia Legislativa (Ales) destacam a importância da banana: um propõe que Alfredo Chaves seja a “Capital Estadual da Banana” (PL 602/2024), e outro institui o “Dia Estadual da Banana” em 22 de setembro (PL 603/2024), ambos de autoria do deputado delegado Danilo Bahiense. Os projetos aguardam análise em comissões.
Festa da Banana: de 4 a 5 de outubro, acontece a 11ª Festa da Banana de Cariacica, em Cachoeirinha, com shows, gastronomia, turismo rural e artesanato. Colibris do Forró e Ricksom Maioli são algumas das atrações. Vai ter Olimpíadas da Banana (para eleger o maior comedor!) e Tombo do Doce da Banana. O evento é uma parceria da CAFC, Asmurca, Aprucas e Prefeitura de Cariacica.
Fonte da Matéria: g1.globo.com