Domingo (21), Reino Unido, Austrália e Canadá anunciaram, num movimento histórico, o reconhecimento formal do Estado da Palestina. Isso coloca esses países entre mais de 140 nações que já haviam dado esse passo importante. A lista, aliás, cresceu bastante desde o início da guerra em Gaza, em 2022, incluindo países como Espanha, Noruega, Eslovênia e o Brasil.
“Hoje, o Reino Unido reconhece oficialmente o Estado da Palestina! É uma tentativa de reacender a esperança de paz entre palestinos e israelenses, buscando uma solução de dois Estados”, declarou Keir Starmer, Primeiro-Ministro britânico, no X (antigo Twitter). Starmer, na real, já havia dado pistas em 29 de julho, dizendo que o reconhecimento viria em setembro, durante a Assembleia Geral da ONU. Ele condicionou a decisão a ações de Israel rumo a um cessar-fogo em Gaza e a negociações de paz que levassem a essa solução de dois Estados. Mas, diante da crise humanitária cada vez pior e da falta de progresso nas negociações, ele decidiu acelerar o processo. A decisão vem num momento em que outros países europeus e latino-americanos também já reconheceram o Estado palestino, aumentando a pressão internacional sobre Israel.
O Primeiro-Ministro canadense, Mark Carney, também anunciou o reconhecimento do Estado da Palestina no domingo, dizendo: “O Canadá reconhece o Estado da Palestina e se oferece para colaborar na construção de um futuro pacífico, tanto para o Estado da Palestina quanto para o Estado de Israel”. A declaração foi feita em um comunicado nas redes sociais. Olha só que importante: Reino Unido e Canadá são os primeiros países do G7 a dar esse passo.
A reação não foi unânime. Líderes conservadores britânicos questionaram a utilidade prática da medida. Israel, por sua vez, criticou os anúncios, alegando que isso seria uma espécie de prêmio ao terrorismo e ao Hamas. Donald Trump, ex-presidente dos EUA, compartilhou dessa opinião.
Os reconhecimentos são vistos por muitos como uma resposta política à expansão de assentamentos e à presença militar israelense em territórios palestinos. França e Arábia Saudita, inclusive, lideraram uma iniciativa diplomática para influenciar outros países a apoiar a Palestina.
A Austrália também entrou na onda, com o Primeiro-Ministro Anthony Albanese anunciando o reconhecimento formal do “Estado independente e soberano da Palestina”. Em comunicado, Albanese disse que a decisão reconhece “as aspirações legítimas e antigas do povo palestino de ter seu próprio Estado”. Ele acrescentou que “o ato de reconhecimento reflete o compromisso de longa data da Austrália com uma solução de dois Estados, o único caminho para uma paz duradoura para os povos israelense e palestino”.
Portugal também entrou na dança, e anunciou que oficializaria o reconhecimento ainda no domingo. Outros países europeus, como França e Bélgica, já manifestaram a intenção de fazer o mesmo.
Com isso, o número de países europeus que até então hesitavam diminuiu consideravelmente. Antes de uma série de reconhecimentos entre 2024 e 2025, a maioria dos apoios vinha de antigos países comunistas, como Suécia, Islândia e Chipre. Em 2024, Espanha, Irlanda, Noruega e Eslovênia quebraram uma espécie de impasse europeu de uma década e se juntaram à lista.
Vale lembrar que a Assembleia Geral da ONU aprovou o reconhecimento de fato do Estado da Palestina em novembro de 2012, elevando seu status de observador para “Estado não membro”.
Nas Américas, poucos países ainda não reconhecem o Estado palestino, incluindo os EUA e o Panamá. Na Europa, Alemanha, Itália, Áustria e as nações bálticas estão entre os que ainda não o fizeram.
No total, cerca de 80% dos 193 países-membros da ONU reconhecem oficialmente um Estado palestino. A lista cresceu bastante desde 2024, com mais de uma dúzia de países se juntando, num contexto de guerra em Gaza e intensificação da expansão de colônias israelenses na Cisjordânia.
A história dos reconhecimentos é longa e complexa. Pouco menos da metade das nações que reconhecem o Estado da Palestina o fizeram formalmente após novembro de 1988, quando a OLP (Organização para a Libertação da Palestina) declarou oficialmente a independência palestina. Na época, o apoio veio principalmente de países comunistas, como a União Soviética e a China, e de países não alinhados, como Iugoslávia e Índia. Outros países seguiram o exemplo ao longo dos anos, com a África do Sul, Filipinas e Ruanda, por exemplo, estabelecendo relações diplomáticas com a Palestina no final do século XX. No início dos anos 2000, Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela reconheceram oficialmente a Palestina. O Brasil reconheceu o Estado da Palestina dentro das fronteiras de 1967 em 2010, incluindo Gaza e Cisjordânia, com Jerusalém Oriental como capital.
Em 2011, a Autoridade Palestina pediu adesão plena à ONU, mas o Conselho de Segurança rejeitou. Apesar disso, os esforços diplomáticos e a frustração com o processo de paz com Israel levaram mais de uma dúzia de países, incluindo Chile, Uruguai e Peru, a reconhecer a Palestina. No mesmo ano, a Palestina foi admitida na Unesco, uma vitória diplomática importante. A Islândia foi a primeira nação da Europa Ocidental a reconhecer a Palestina em 2011, seguida pela Suécia em 2014.
Nos anos recentes, Bahamas, Trinidad e Tobago, Jamaica e Barbados anunciaram o reconhecimento (2024). O México, em junho de 2023, declarou total apoio à criação do Estado palestino e estabeleceu uma embaixada nos territórios palestinos. A Bolívia cortou relações com Israel em 2023 por causa da guerra em Gaza, alegando crimes contra a humanidade. A Colômbia reconheceu a Palestina em 2018 e, em 2024, sob o governo de Gustavo Petro, cortou relações com Israel e abriu uma embaixada em Ramallah.
*Com informações da Deutsche Welle
Fonte da Matéria: g1.globo.com