Na segunda-feira (15), o presidente Donald Trump anunciou o envio de tropas da Guarda Nacional para Memphis, Tennessee. Olha só, a cidade é governada pelo Partido Democrata, adversário político direto do republicano Trump! A decisão pegou muita gente de surpresa, principalmente porque já vinha sendo cogitada uma intervenção federal em outras cidades democraticamente administradas.
Segundo Trump, a operação vai incluir, além da Guarda Nacional, o FBI, o ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândega) e a DEA (Departamento de Repressão às Drogas). Em uma cerimônia na Casa Branca, ele justificou a ação alegando que Memphis apresenta taxas altíssimas de criminalidade: “A cidade teve a maior taxa de crimes violentos, a maior taxa de crimes contra a propriedade e a terceira maior taxa de homicídios do país inteiro!”, declarou o presidente. E já avisou: Chicago deve ser a próxima na lista!
Na real, Trump já tinha soltado a bomba na sexta-feira (12), em entrevista à Fox News. Na ocasião, ele classificou Memphis como “extremamente problemática”. Interessante notar que, segundo ele, o prefeito democrata, Paul Young, estaria “feliz” com a decisão. Só que Young, em entrevista coletiva, desmentiu Trump na lata: “Quero deixar claro: eu não pedi a Guarda Nacional e não acho que essa seja a solução para reduzir a criminalidade. Mas, como a decisão já foi tomada, meu compromisso é trabalhar para que tudo aconteça de forma a beneficiar a nossa comunidade”.
Memphis, uma cidade com 611.000 habitantes às margens do Rio Mississippi, enfrenta de fato altos índices de criminalidade, confirmando dados do FBI. Segundo o US Census Bureau, cerca de 24% da população vive na pobreza – mais do que o dobro da média nacional. A situação é, sem dúvida, preocupante.
Mas essa não é a única cidade na mira de Trump. Há três semanas, ele já havia avisado que Chicago, Nova York e San Francisco – todas governadas por democratas – também estavam na lista para receber intervenção federal na segurança, similar à que ocorre em Washington D.C. desde meados de agosto.
“Chicago, provavelmente, será a próxima. Depois, ajudaremos Nova York”, disse Trump à imprensa no Salão Oval. “Podemos fazer uma limpa em San Francisco também”. Ele não deu detalhes sobre prazos nem números sobre a violência nessas cidades, apenas classificou Chicago como uma “bagunça” e o prefeito como “extremamente incompetente”.
A intervenção em Washington D.C., iniciada em 12 de agosto, após Trump anunciar que o “crime está fora de controle” e que a taxa de homicídios é maior que em várias capitais do mundo, inclusive Brasília, é um ponto crucial dessa discussão. Apesar de problemas de violência armada, o crime em geral caiu para o menor nível dos últimos 30 anos em 2024, segundo dados oficiais. O crime violento caiu 26% entre 2023 e 2024, segundo o Departamento de Polícia local.
Mesmo assim, cerca de 2.000 homens da Guarda Nacional foram mobilizados para a capital, segundo o Departamento de Defesa americano. O “The New York Times” estima que a intervenção dure 30 dias, mas Trump já deixou claro que pode estender a operação. A Guarda Nacional, uma força híbrida vinculada ao Exército dos EUA, atua em nível estadual e federal, normalmente sob comando estadual, mas com recursos federais em missões federais.
Autoridades locais de Washington D.C. criticaram veementemente a intervenção, afirmando que a Guarda Nacional não teria autoridade para realizar prisões. A prefeita Muriel Bowser classificou a ação como “alarmante e sem precedentes”, e o procurador-geral Brian Schwalb a chamou de “sem precedentes, desnecessária e ilegal”.
A decisão de Trump é vista por muitos como uma medida extraordinária de uso do poder federal, com potencial para expor os moradores da capital e de outras cidades. A polêmica está longe de acabar.
Fonte da Matéria: g1.globo.com