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Jota Quest: Por que tanta gente ama odiar uma banda que sempre fez um pop romântico tão bom?

Jota Quest… Que história, né? Essa banda mineira, gente! Muitos ainda insistem em menosprezar o trabalho deles, sabe? Mas olha só, fazer um pop rock romântico de qualidade não é moleza, viu? A ideia do quinteto sempre foi simples: alcançar o maior público possível com um som dançante, baladas que tocam a alma e canções com aquela pegada soul.

Aí você se pergunta: por que, dentre tantas bandas de pop rock, o Jota Quest virou alvo de tanta crítica? Tipo assim, muita gente só valoriza álbuns “conceituais” de Paralamas, Pato Fu, Los Hermanos… Quando o assunto é pop rock comercial, parece que o limite era o Skank. Pra mim, essa onda de “ódio” ao Jota Quest é um exagero, na real. Pode ser que você não curta muito a performance do Rogério Flausino no palco, ou não seja fã das letras apaixonadas dos hits… Mas é inegável: a banda toca muito bem, sabe exatamente o que quer e compôs músicas que grudam na cabeça, te fazem dançar e são perfeitas pra um clima romântico.

Em uma entrevista com o Flausino, perguntei sobre essa enxurrada de críticas. Afinal, quando começou essa história toda? Ele me contou que a coisa ficou mais tensa em 2001, depois de um comercial da Fanta Laranja. “Ganhei uma grana preta na época. E fazer comercial era um tabu”, explicou ele. “A gente estava no auge, tinha vendido um milhão de cópias, estávamos em todo lugar… Ficou meio ‘demais’. ‘Fácil’ e ‘O Vento’ tocavam sem parar. Aí, veio o comercial da Fanta… Foi a gota d’água. A galera começou a falar: ‘Vamos acabar com esses caras!'”

Essa “galera”, na verdade, não era o público, não. Eram jornalistas e críticos que começaram a desqualificar tudo o que a banda fazia. Lembro bem dessa mudança de tom. Antes, o Jota Quest era visto como uma banda divertida, com ótimos músicos e uma cover incrível de “As dores do mundo”, do mestre Hyldon.

O romantismo intenso já estava presente nas primeiras letras do Flausino, como em “Encontrar Alguém”, o primeiro hit: “Tua alma leve como as fadas / Que bailavam no teu peito / Tua pele clara como a paz / Que existe em todo sonho bom”. Mas o álbum de 1996 também tinha músicas menos óbvias, como “Ônibusfobia”, cheia de trava-línguas sobre o medo de ônibus lotado: “Jacarepaguá é longe pra caramba / Jacarepaguá só se eu tiver de carro”.

“Tem uns poucos chatos que dizem que não querem fazer sucesso. Não existe coisa pior do que ouvir um grupo com as mesmas melodias”, resumiu Flausino. Para ele, a melodia era tudo. Como diz a música que mudou a trajetória da banda, eles queriam “uma canção fácil, extremamente fácil, para você e eu e todo mundo cantar junto”.

Seu Jorge, que gravou “Na Moral” com a banda, me deu sua visão sobre esse período conturbado: “Eles preferiram ser ingênuos”, disse ele, pensativo. “Não tem aquela malícia que a gente espera da música pop, que precisa ter um toque ácido. Eles são agridoces”, definiu o cantor. Para Seu Jorge, o romantismo da banda, um adjetivo nem sempre bem visto pela crítica, também pesou contra eles.

Como a gente mede a relevância de um artista? Uma forma é pelos prêmios, né? O Jota Quest já levou VMB (da MTV) e Prêmio Multishow, mas os dois Grammys Latinos – Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro em 2011 e Melhor Álbum de Rock Brasileiro Ao Vivo em 2013 – mostram bem a versatilidade deles, transitando entre rock e pop com naturalidade.

As trilhas sonoras também ajudaram a popularizar a banda. Lembra dos cinco tocando “Sempre Assim” no “Zoando na TV”, com a Angélica? E “Só Hoje”, tema de Solene e Beto em “Malhação” (2003)? Essa balada é até hoje a mais ouvida da banda no Spotify. Assim como “Mais Uma Vez” e “Carta de Amor”, letras inspiradas em bilhetes amorosos da ex-namorada de Flausino, a escritora Fernanda Mello.

Wilson Sideral, irmão de Flausino e praticamente o sexto integrante, é outro parceiro frequente. A simplicidade sempre marcou as composições deles com o Jota Quest, como em “Fácil”, o maior hit de Sideral gravado pela banda. A música resume bem a proposta do Jota Quest: “Falar é complicado, bapor”.

Não, o Jota Quest não queria complicar as coisas. Se quisesse, não teria cantado os versos de “Amor Maior”, outra parceria com Sideral: “Eu quero ficar só / Mas comigo só eu não consigo / Eu quero ficar junto / Mas sozinho só não é possível”. Já vi muita gente criticando as letras do Jota Quest só pelo prazer de criticar… Mas se esses versos fossem dos Tribalistas ou do Titãs, ninguém ia reclamar tanto, né?

A banda também costumava compor apenas a parte musical e convidar outros letristas. “Tele-fome”, por exemplo, é do poeta mineiro Paulinho Pedra Azul: “Não adianta falar de amor ao telefone, isso é ilusão / Pra que tanto telefonema se o homem inventou o avião?”. “Dentro de um abraço” surgiu de um texto da escritora Martha Medeiros, e “Tudo está parado”, de mensagens de Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii).

Mas quando o assunto é criticar as letras do Jota Quest, a campeã de menções é “Do seu lado”, com o refrão: “O amor é o calor que aquece a alma / O amor tem sabor pra quem bebe da sua água”. Conversei com o Nando Reis, autor da letra, e ele não entende as críticas: “Você já bebeu água com sede?”, perguntou ele, numa retórica bem clara. Nando disse que seu estilo é “quase barroco”. “Gosto de imagens, e elas ajudam a expressar os sentimentos de forma objetiva”, explicou. O Jota Quest, definitivamente, não tinha medo de expressar os sentimentos.

Fonte da Matéria: g1.globo.com