Darren Aronofsky, o cineasta americano conhecido por obras-primas que mexem com a nossa cabeça, como “Réquiem para um Sonho” (2000) e “Cisne Negro” (2010), surpreendeu a todos com “Ladrões”, um filme que, na real, é puro entretenimento. A gente tá falando de um cara que nos presenteou com filmes densos, explorando temas como vício, obsessão e religiosidade em ambientes claustrofóbicos – tipo “Mãe!” (2017) e “A Baleia” (2022). Imaginem só a mudança de ritmo!
Com Austin Butler, o astro de “Elvis”, brilhando no papel principal, “Ladrões” é uma aventura criminosa leve e charmosa, em cartaz nos cinemas brasileiros desde o final de agosto. A história gira em torno de um ex-jogador de beisebol que se vê, meio sem querer, no meio de uma briga entre mafiosos nova-iorquinos. Uma verdadeira montanha-russa de emoções, mas numa vibe bem diferente do que o diretor costuma nos entregar.
Em entrevista ao g1, Aronofsky explicou essa guinada inesperada: “Há uma certa fome por esse tipo de coisa agora. Difícil chamar a atenção das pessoas, né? Tem tanta coisa acontecendo, tanta distração…”. Ele completa, com um toque de ironia: “Se Hollywood tem que fazer alguma coisa agora, é calar a boca e dançar!”. A ideia, segundo ele, era criar algo divertido, uma jornada de duas horas para o público relaxar e se divertir. “Era o projeto mais comercial que eu estava desenvolvendo há um tempo”, afirmou.
A escolha de adaptar “Caught Stealing”, livro de Charlie Huston, também marca uma diferença em relação aos seus trabalhos anteriores. Aronofsky já havia adaptado “A Baleia”, baseada na peça de Samuel D. Hunter, um escritor que ele considera “um dos grandes dos EUA”. Mas a experiência com Huston foi outra: “O Charlie já tinha um rascunho que pegava a energia da história e parecia um filme”. Ele destaca a diferença entre escrever um livro e um roteiro: “Você não pode fazer monólogos internos tão bem, sabe? A voz do Hank (protagonista) era uma parte importante do livro.” No fim das contas, ambos os projetos deram certo, finaliza.
“Ladrões”, lançado em 2005 nos EUA, é o primeiro livro de uma trilogia. Aronofsky faz um paralelo interessante com seus próprios filmes, repletos de personagens complexos e histórias densas. “Você acompanha o desenvolvimento de um personagem numa história mais longa, de um jeito mais realista. E o legal foi me apegar a esse realismo, mesmo com toda a loucura acontecendo ao redor”, comenta.
O diretor sabe que essa aposta no puro entretenimento pode frustrar alguns fãs que esperam o Aronofsky perturbador de sempre. Ele mesmo admite a preocupação: “Isso é engraçado. Estou um pouco preocupado com as pessoas ficarem chateadas por não serem mais perturbadas. Então, você meio que tá ferrado de qualquer jeito. Não tem como ganhar.” Mas, no fim, a gente tem que dar o braço a torcer: “Ladrões” é uma prova de que até os mestres do suspense podem surpreender com uma boa dose de diversão.
Fonte da Matéria: g1.globo.com