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O Futuro do Império Armani: Um Gigante da Moda sem seu Criador

A morte de Giorgio Armani, aos 91 anos, nesta quinta-feira (4), deixa uma lacuna imensa no mundo da moda. Afinal, por cinco décadas, ele construiu um império, uma das marcas mais reconhecidas globalmente. Mas e agora? Qual o futuro da empresa italiana, sempre tão zelosamente independente, que ele comandou até seu último suspiro?

Armani, único acionista majoritário – fundou a grife na década de 70 com seu saudoso parceiro, Sergio Galeotti – mantinha controle absoluto sobre todos os aspectos, da criação à administração. Sem filhos para assumir o legado, ele deixa uma empresa com receita estável: 2,3 bilhões de euros (aproximadamente R$ 14,6 bilhões) em 2024. Os lucros, porém, sentiram o baque da recessão que assola o setor de luxo.

Apesar da desaceleração, a marca continua extremamente atraente. Mario Ortelli, sócio-diretor da consultoria Ortelli&Co, crava: “A Armani seria um alvo interessante para aquisição? Sem dúvida! É uma das grifes mais famosas do mundo, com uma identidade visual inconfundível.” Ele pondera, no entanto: um acordo a curto prazo é improvável.

Ao longo dos anos, o mestre dos ternos desconstruídos recebeu diversas investidas. Em 2021, John Elkann, herdeiro da família Agnelli, fez uma proposta. A Gucci, sob o comando de Maurizio Gucci, também tentou a sorte. Mas Armani, conhecido por sua cautela – especialmente com rivais franceses – sempre recusou qualquer negócio que comprometesse seu controle. Nem a abertura de capital o convenceu.

Para garantir a continuidade e a independência da sua criação, Armani se cercou de familiares e colaboradores de longa data. Ele deixa como herdeiros a irmã Rosanna, as sobrinhas Silvana e Roberta, e o sobrinho Andrea Camerana – todos com papéis importantes no grupo. Pantaleo Dell’Orco, seu braço direito, também é visto como um possível sucessor. Essa “família Armani” é quem deve conduzir o futuro da marca. Nos próximos dias, com a abertura do testamento, teremos mais informações.

**Um legado protegido por uma fundação:**

Há mais de uma década, Armani já planejava a sucessão, visando manter a empresa independente. Em 2016, criou uma fundação com o objetivo declarado de proteger a governança dos ativos do Grupo Armani e garantir que eles se mantivessem alinhados aos seus princípios. Em entrevista ao Corriere della Sera (2017), ele explicou que a fundação evitaria disputas entre herdeiros e impediria a venda ou divisão do grupo.

A fundação detinha inicialmente 0,1% da empresa, mas, após sua morte, deveria receber uma fatia maior, conforme declarado por Armani. Três pessoas por ele escolhidas iriam administrar a fundação. Novos estatutos da empresa, também elaborados por ele, estabelecem regras rígidas para os herdeiros, incluindo uma “abordagem cautelosa em aquisições” e a divisão do capital social em categorias com diferentes poderes de voto. A abertura de capital, se ocorrer, só poderá acontecer após cinco anos da entrada em vigor do estatuto e com o aval da maioria dos diretores.

**Pequeno, porém valioso:**

Armani sempre preferiu um negócio de porte menor, comparado a gigantes como LVMH, Kering (dona da Gucci) e Prada. Em seu último relatório financeiro, ele destacou investimentos em projetos estratégicos: renovação de lojas icônicas (Madison Avenue, Nova York; Emporio Armani, Milão), o novo Palazzo Armani, em Paris, e a internalização da gestão do e-commerce.

A Europa concentra quase metade da receita do grupo – bem mais que em outras marcas de luxo. Américas e Ásia-Pacífico respondem por cerca de um quinto cada. No fim de 2024, o grupo tinha 570 milhões de euros em caixa líquido, mesmo após os investimentos.

**A sucessão: um desafio complexo:**

Na última entrevista ao Financial Times, Armani falou em uma transição gradual para seus familiares e colaboradores mais próximos. “Meus planos de sucessão consistem em uma transição gradual das responsabilidades que sempre assumi para aqueles mais próximos a mim, como Leo Dell’Orco, os membros da minha família e toda a equipe de trabalho”, afirmou.

A escolha de um novo presidente e CEO é crucial. Veteranos como Giuseppe Marsocci e Daniele Ballestrazzi são cotados. Mas a questão criativa é mais complexa. Silvana, sobrinha de Armani, trabalhava no design das coleções femininas; Dell’Orco, nas masculinas. Será um único diretor criativo? Vários? Ortelli acredita que Armani já definiu isso nas diretrizes da fundação. O futuro do império Armani, portanto, ainda é uma incógnita que só o tempo poderá desvendar.

Fonte da Matéria: g1.globo.com