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** Milei, o liberal que teve que intervir: Crise econômica e escândalo político forçam mudança na Argentina

** A Argentina tá de novo em meio a uma crise cambial. Na última terça-feira (2), o governo do presidente Javier Milei, conhecido por sua agenda ultraliberal, anunciou novas medidas de intervenção no mercado de câmbio. Olha só, a decisão pegou muita gente de surpresa! Afinal, Milei sempre defendeu a mínima intervenção estatal. O objetivo? Garantir o fornecimento de dólares e controlar a sangria do peso argentino, usando o Tesouro Nacional para comprar e vender a moeda.

Em abril, o governo havia comemorado o fim do “cepo”, aquele sistema que limitava a compra de dólares pelos argentinos. Parecia que a era do liberalismo radical tinha chegado. Mas, na real, a situação econômica não tá nada boa.

Economistas consultados pelo g1, já estão preocupados. Essa nova intervenção, mesmo sendo mais branda que o “cepo”, pode acabar assustando os investidores. Muitos voltaram pra Argentina atraídos pelas promessas de Milei, mas agora veem o governo recorrendo de novo ao Tesouro pra segurar a queda do peso, em meio a uma verdadeira tempestade política.

Mas qual a raiz do problema? Vamos aos fatos:

**A agenda ultraliberal de Milei (e seus desafios):**

Milei, eleito em 2023, herdou uma bomba-relógio: a pior crise econômica argentina em décadas. Inflação altíssima, pobreza em alta, uma dívida externa gigantesca e falta de dólares nas reservas. Esse cara, economista de formação e crítico ferrenho da “casta política”, defende um liberalismo radical, com o Estado bem reduzido. Suas principais propostas? Dolarização da economia (substituindo o peso pelo dólar), fechamento do Banco Central, privatizações em massa, cortes brutais nos gastos públicos, abertura comercial total e uma revisão radical nas leis trabalhistas e nos subsídios.

**Por que a intervenção? Três fatores-chave:**

1. **Peso em queda livre e inflação:** Apesar de ter conseguido diminuir a inflação – que chegava a mais de 200% ao ano – com cortes de gastos, Milei ainda não conseguiu estabilizar a economia nem atrair investimentos estrangeiros em massa. As reservas em dólares continuam baixas, o que deixa o peso vulnerável. E isso atrapalha até mesmo a tão sonhada dolarização. O governo tentou inicialmente uma estratégia mais liberal, com a eliminação do “cepo”. Resultado: o peso despencou ainda mais, com a alta demanda por dólares. Esse movimento, por sua vez, aumenta a inflação – algo que Milei precisa evitar para manter seu apoio popular. Em 2025, as reservas chegaram a um déficit de cerca de US$ 7 bilhões após o fim do “cepo”, iniciando um ciclo vicioso de desvalorização da moeda. Para tentar conter a situação, o governo endureceu as regras para operações em moeda estrangeira com credores comerciais, proibindo os bancos de aumentar sua posição em câmbio à vista no último dia do mês. Aumentar a taxa de juros também não foi suficiente. Segundo Carlos Henrique, diretor de operações da Frente Corretora, a intervenção direta é uma “contenção de crise”, uma resposta a problemas acumulados desde antes da crise política atual e à incapacidade de resolver a crise fiscal. Ele afirma que, ao intervir, o governo abandona temporariamente a ideia de autorregulação do mercado, assumindo um controle mais direto da economia.

2. **Escândalo de corrupção:** Em agosto, um escândalo de corrupção atingiu o governo. Áudios vazados acusam Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Presidência, de envolvimento em corrupção, junto com o subsecretário Eduardo “Lule” Menem. Diego Spagnuolo, ex-chefe da Agência Nacional para a Deficiência (Andis), afirma que ambos exigiram propina de indústrias farmacêuticas. Segundo o relatório do Bradesco BBI, esse tipo de escândalo mina a confiança dos investidores, levando a uma fuga de capitais e piorando a situação cambial.

3. **Pressão eleitoral:** As eleições provinciais de Buenos Aires, no dia 7, estão se aproximando. Milei e seu partido sofreram derrotas no Congresso, com cortes de gastos vetados e decretos presidenciais anulados. A popularidade do presidente caiu oito pontos em cinco semanas, chegando a 41%, mostrando sua fragilidade política. Para Henrique, essa instabilidade política também contribuiu para a desvalorização da moeda, forçando a intervenção.

Em resumo: a combinação de uma crise econômica grave, um escândalo de corrupção e a proximidade de eleições provinciais forçaram Milei a abandonar, pelo menos temporariamente, sua ideologia ultraliberal e intervir diretamente no câmbio. A situação na Argentina continua tensa e incerta.

Fonte da Matéria: g1.globo.com