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Planet Hemp: Adeus aos Palcos, Mas a Luta Continua

Em setembro, o Planet Hemp inicia sua turnê de despedida, “A Última Ponta”. Dez capitais brasileiras – Salvador (13 de setembro), Recife, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Goiânia, Brasília, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro (13 de dezembro) – irão receber os shows da banda que marcou época. Trinta anos depois de sua formação, o grupo encerra as atividades, orgulhoso de seu legado, mas profundamente preocupado com o que considera um “sequestro” da luta pela liberdade de expressão.

Na real, o Planet Hemp surgiu em um Brasil ainda cicatrizado pela ditadura, clamando por liberdade. Em 1995, Marcelo D2, Skunk (1967-1994), Rafael, Formigão e Bacalhau deram voz a uma geração que ansiava por se expressar sem medo. Eles criaram um rap genuinamente carioca, diferente da estética paulistana predominante na época, como destaca B Negão, integrante que se juntou à banda após a morte de Skunk. “A gente queria um som único, somar pela diferença, pela diversidade”, reforça D2. Essa diversidade interna, segundo eles, foi a chave para o sucesso do Planet Hemp.

B Negão lembra: “A gente veio de um momento pós-ditadura, o Brasil começando a se abrir, refletindo muito sobre os mestres do underground.” Mas essa luta pela liberdade, eles acham, tá longe de acabar. “Essa anistia, cara, tá nos f*** agora. Essa galera tá no comando até hoje”, dispara B Negão, referindo-se àqueles que se beneficiaram da anistia após a ditadura.

Durante sua trajetória, mesmo nos hiatos, o Planet Hemp sempre cutucou feridas abertas. D2 lembra que, apesar da popularidade, o medo das memórias da ditadura persistia. Um exemplo disso? A prisão do grupo inteiro em 1997, acusados de apologia às drogas por causa das letras que falavam sobre maconha. O primeiro álbum, “Usuário”, com o hit “Legalize Já”, se tornou um hino pela legalização. Mas, como diz D2, “para brancos ricos, em condomínios, a maconha é legalizada; para o resto, não”.

Esse episódio, que ecoa até hoje em casos como o de Poze do Rodo – investigado por apologia ao tráfico e ao uso de armas –, ilustra a visão do Planet Hemp. Daniel Ganjaman comenta: “A parada do Poze teve esse lance de apologia, mas aí viram que não ia colar, inclusive por conta do debate já existente em relação ao Planet há quase 30 anos”.

A crítica se estende à onda conservadora. “Os conservadores brasileiros são muito engraçados: envolvidos com tráfico de drogas, golpe militar, falam da família brasileira e não honram a própria família”, ironiza B Negão. “Esses caras chegam com uma pauta moral, sem seguir nada disso”, completa.

O problema, segundo a banda, é a deturpação da luta pela liberdade de expressão. “O Planet falava de liberdade de expressão no pós-ditadura. Agora, os filhotes da ditadura militar dizem que querem liberdade de expressão para pedir a volta da ditadura”, afirma B Negão. D2 completa: “Sequestraram nossas causas. Essa galera usa a liberdade de expressão para cometer crimes. É um olhar elitista para o mundo”.

Apesar do fim, o legado do Planet Hemp permanece aceso. “Nada nos foi dado”, resume Marcelo D2. A banda, que conquistou o mainstream com um discurso forte e provocador, encerra a carreira com a mesma intensidade. “A gente tem uma garra, uma vontade que as coisas aconteçam fortes pra caramba”, afirma D2. “Queremos acreditar em algo diferente, mesmo em um momento em que estamos desacreditados demais”, conclui, ressaltando que essa postura mantém vivo o espírito do grupo.

Fonte da Matéria: g1.globo.com