** O polêmico “tarifaço” imposto pelo então presidente Donald Trump deve reduzir o déficit total dos Estados Unidos em impressionantes US$ 4 trilhões até 2035. Olha só que impacto! Mas, segundo o Congressional Budget Office (CBO), órgão independente do Congresso americano, essa aparente vitória econômica tem um preço alto. Um relatório divulgado em 22 de setembro aponta que a medida, além de encarecer produtos para famílias e empresas, vai frear investimentos e a produtividade do país. A notícia não é boa para ninguém, na real.
O CBO detalha que a grana extra arrecadada com as tarifas vai diminuir o déficit primário (diferença entre receitas e despesas do governo) em US$ 3,3 trilhões até 2035. E aí, com menos necessidade de empréstimos, os gastos com juros da dívida pública devem cair US$ 700 bilhões. Somando tudo, chegamos aos US$ 4 trilhões. “Por causa das mudanças recentes nas tarifas, essas estimativas são maiores do que a redução de US$ 2,5 trilhões nos déficits primários e a diminuição de US$ 500 bilhões nos gastos com juros que projetamos em junho”, explicou o CBO em seu relatório.
Apesar desse impacto positivo no saldo da dívida, o CBO prevê que as tarifas, tanto as impostas pelos EUA quanto as impostas em retaliação por seus parceiros comerciais, vão diminuir o tamanho da economia americana. Me parece que o remédio pode ser pior que a doença, né? A explicação? As tarifas mais altas reduzem investimentos e produtividade, afirma o órgão. Bens de consumo e de capital ficam mais caros, diminuindo o poder de compra das pessoas e das empresas.
Segundo o CBO, a tarifa efetiva sobre produtos estrangeiros nos EUA está 18 pontos percentuais acima das taxas de 2024. O relatório não menciona o Brasil especificamente – cujos produtos passaram a enfrentar uma taxa de 50% (com exceções) – mas lista algumas tarifas elevadas em 2025: 30% para produtos da China e Hong Kong; 25% para itens específicos do México; 35% para itens específicos do Canadá; 15% para itens específicos da União Europeia; e até 25% para automóveis e peças, além de 50% para aço, alumínio e cobre. O documento ainda cita tarifas de pelo menos 10% sobre a maioria das importações de outros países, com muitas delas enfrentando aumentos ainda maiores a partir de 7 de agosto.
Entre janeiro e julho, o Tesouro americano arrecadou US$ 136 bilhões em direitos aduaneiros, sendo US$ 28 bilhões só em julho. Com as novas tarifas, a arrecadação superou as projeções de janeiro, que estimavam US$ 80 bilhões para o ano fiscal de 2025 – valor próximo à média dos cinco anos anteriores. O CBO prevê novos aumentos na arrecadação nos próximos meses. Sem novas mudanças nas alíquotas, os direitos aduaneiros devem chegar a cerca de US$ 200 bilhões neste ano fiscal. Mas, atenção: essa estimativa tem incertezas, já que existe um intervalo entre a implementação das tarifas e o recebimento das receitas pelo Tesouro.
As estimativas do CBO se baseiam em dados do Censo, da Alfândega e Proteção de Fronteiras (Customs and Border Protection) e do Tesouro, e incluem as mudanças implementadas até 19 de agosto. Enfim, o “tarifaço” de Trump teve um impacto significativo, mas as consequências a longo prazo ainda são incertas e preocupantes.
Fonte da Matéria: g1.globo.com