A ONU declarou sexta-feira (22), por meio do Programa Mundial de Alimentos (PMA), que a fome se instalou em Gaza, um fato inédito no Oriente Médio. A culpa, segundo a organização, recai sobre Israel, que prontamente rejeitou a acusação, classificando o relatório como “falso e distorcido”. Olha só: a situação é grave, gente!
O alerta veio da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), principal autoridade mundial em crises alimentares. A fome generalizada foi constatada na Cidade de Gaza, a maior do território e palco de uma nova ofensiva terrestre israelense. Se nada mudar, a situação pode piorar e se espalhar pelo restante da região nos próximos meses, avisa a IPC.
Tom Fletcher, subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, foi direto: “Há fome generalizada em Gaza no século XXI! Uma fome que se desenvolve sob o olhar implacável de drones e tecnologia de ponta. Uma fome usada como arma de guerra por alguns líderes israelenses. Isso é inacreditável! Essa fome é evitável e deveria nos assombrar. Ela foi gerada pela vingança e pela inércia mundial. Chega! Precisamos de um cessar-fogo imediato e da abertura das fronteiras. Para muitos, já é tarde demais. Por favor, nos deixem entrar em Gaza!”, clamou Fletcher.
Os números são assustadores. Segundo o IPC, pelo menos 132 mil crianças menores de cinco anos estão em risco de morte por desnutrição aguda. Esse número dobrou desde maio, com mais de 41 mil casos graves. A ONU estima que mais de 200 pessoas morreram de fome em Gaza desde o início do conflito.
Fletcher foi categórico: o relatório da IPC “é uma prova inegável de uma fome evitável”, resultado da “obstrução sistemática israelense” ao acesso de ajuda humanitária a Gaza. Ele denunciou toneladas de alimentos parados na fronteira, impedidos de entrar.
A resposta de Israel foi imediata e contundente. O Ministério das Relações Exteriores acusou o IPC de ter “fabricado” o relatório para beneficiar o Hamas. Em posts no X (antigo Twitter), o ministério disparou: “Não há fome em Gaza! IPC, pare de mentir! Todo o documento se baseia em mentiras do Hamas, recicladas por organizações com interesses próprios. Relatórios anteriores do IPC já se mostraram imprecisos. As leis da oferta e da demanda não mentem – o IPC, sim! Todas as previsões anteriores sobre Gaza se mostraram falsas. Essa avaliação também será descartada.”
Israel alegou que mais de 100 mil caminhões de ajuda humanitária entraram em Gaza desde o início da guerra – uma média de 146 por dia, abaixo da recomendação da ONU de 400 a 500 caminhões – e que, nas últimas semanas, houve um “enorme fluxo de ajuda” com alimentos básicos.
O relatório do IPC chega após meses de alertas de organizações humanitárias sobre o agravamento da crise humanitária em Gaza devido às restrições impostas por Israel à entrada de suprimentos, somadas à ofensiva militar. Em julho, a IPC já havia classificado a fome em Gaza na fase 5, a mais grave, considerada “catástrofe humanitária”.
Essa classificação – a primeira vez que a IPC confirma uma fome no Oriente Médio – deve aumentar a pressão internacional sobre Israel, envolvido em guerra contra o Hamas desde o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, que deixou mais de 1.200 israelenses mortos.
A intenção de Israel de tomar completamente a Cidade de Gaza para eliminar os redutos do Hamas, segundo especialistas, agravará ainda mais a crise alimentar. Na quinta-feira (21), palestinos começaram a evacuar a cidade em meio aos bombardeios.
A ofensiva israelense na Cidade de Gaza, iniciada na quarta-feira (20), provocou repúdio internacional. O Exército israelense, segundo o porta-voz Effie Defrin, iniciou os “primeiros estágios” da tomada da cidade, controlando os arredores. A operação, que envolve tanques, soldados e intensos bombardeios, faz parte do plano de captura total de Gaza, aprovado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em agosto. Foram convocados mais 60 mil reservistas. A operação, segundo a rádio militar, “vai continuar até 2026”.
O Hamas condenou o plano israelense como um “desrespeito flagrante” aos esforços de mediação. Apesar de ter aceitado uma proposta de cessar-fogo do Egito e Catar, Israel exige a libertação de todos os reféns, sem sinais de querer uma trégua.
O ataque do Hamas em outubro de 2023 deixou 1.219 mortos (dados AFP), enquanto a ofensiva israelense já causou mais de 61.500 mortes palestinas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, número considerado confiável pela ONU. A guerra, iniciada em outubro de 2023, já dura mais de 22 meses, com mais de 61 mil mortos, e gerou críticas internacionais e forte oposição interna a Israel, que ainda enfrenta condenação por ter matado seis jornalistas em Gaza, cinco deles da Al Jazeera.
Fonte da Matéria: g1.globo.com