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Trump e Putin se encontram no Alasca, mas guerra na Ucrânia segue sem trégua

Nesta sexta-feira (15), Donald Trump e Vladimir Putin se encontraram no Alasca. A expectativa global era enorme: um cessar-fogo na guerra da Ucrânia, que já dura mais de três anos, poderia ser anunciado. Mas, na real, nada disso aconteceu. A reunião terminou sem acordo.

Putin voltou pra Moscou de mãos abanando, sem nenhuma declaração concreta. Os discursos foram vagos, sem detalhes sobre o que rolou na conversa entre os dois. Quebrando a etiqueta diplomática, Putin foi o primeiro a falar. Ele fez questão de elogiar Trump, dizendo que o considerava um “bom vizinho”, que estava feliz em vê-lo vivo e que, se o republicano ainda estivesse no poder em 2022, a guerra na Ucrânia talvez nem tivesse começado. Putin ainda soltou que houve progressos na reunião e que espera que Zelensky não atrapalhe a paz. Hum…

Trump, por sua vez, foi direto: não há acordo enquanto não houver um acordo! Faltam detalhes a serem acertados, disse ele. O próximo passo? Ligar para Zelensky e para membros da OTAN. Ele reconheceu “grande progresso”, mas sem dar detalhes, e acrescentou que ele e Putin precisam se encontrar de novo em breve. Aliás, Putin brincou que a próxima reunião poderia ser em Moscou, e Trump respondeu que “poderia ver isso acontecendo”. Interessante, né?

Putin saiu ganhando na questão simbólica. Ele conseguiu uma conversa direta com o presidente americano, algo que nem Zelensky, nem os aliados históricos dos EUA na Europa conseguiram. A imagem que circulou pelo mundo todo mostra Putin, acusado de crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional, com o dedo em riste, e um Trump sorridente, como se estivessem reencontrando um velho amigo. Essa cena marca o fim do isolamento imposto à Rússia pelo Ocidente desde 2022 e o começo de um novo capítulo na disputa geopolítica.

Antes de chegar ao Alasca, Putin parou em Magadan, uma cidade portuária russa. Lá, ele visitou uma fábrica, um complexo esportivo e deixou flores em um memorial que homenageia a cooperação entre americanos e soviéticos na Segunda Guerra Mundial. Olha só que detalhe: na quinta-feira, o chanceler russo, Sergei Lavrov, chegou a Anchorage usando um casaco com as letras “CCCP”, a sigla da antiga União Soviética em cirílico. Afinal, o bloco se desfez em 1991, dando origem a 15 países, incluindo Rússia e Ucrânia. Putin costuma chamar esse evento de “a maior catástrofe geopolítica do século”.

Zelensky, que não foi convidado para a reunião, escreveu nas redes sociais que esperava que o encontro abrisse caminho para negociações sérias entre Rússia, Estados Unidos e Ucrânia. Mas, mais tarde, ele postou um vídeo denunciando bombardeios russos em várias cidades no mesmo dia das negociações. “Os ataques continuam e não há sinal de que Moscou esteja se preparando para acabar com a guerra. No dia das negociações, eles também matam pessoas. Isso diz muito”, afirmou, pedindo uma posição firme dos Estados Unidos.

Trump saiu de Washington com uma hora de atraso, às 8h da manhã (horário local), 9h em Brasília. Durante o voo, ele declarou que buscava um cessar-fogo. “A Europa não vai me dizer o que fazer, mas estará envolvida no processo, assim como Zelensky. Não sei o que vai acontecer hoje, mas não vou ficar feliz se não houver cessar-fogo”, disse. Ele também afirmou que o destino dos territórios ocupados pela Rússia é decisão da Ucrânia. E avaliou os ataques do dia como uma tentativa de Putin de ganhar vantagem, mas alertou: “isso só vai prejudicá-lo”. No avião, Trump ainda escreveu nas redes sociais que teve uma ótima conversa por telefone com Aleksander Lukashenko, presidente de Belarus e aliado de longa data de Putin.

Trump chegou ao Alasca às 10h20 (horário local), 15h20 em Brasília. Pouco depois, a Casa Branca informou que a reunião não seria apenas entre os dois presidentes. Pelo lado americano, estavam o secretário de Estado, Marco Rubio, e o enviado especial Steve Witkoff, um empresário do ramo imobiliário e amigo pessoal de Trump desde os anos 1990. Witkoff, sem experiência diplomática antes de ser nomeado por Trump em seu segundo mandato, já trabalhou em missões no Oriente Médio e nas negociações de paz com a Rússia. Seus críticos o veem como inexperiente, mas Trump o considera alguém de fora da política, focado em soluções. Do lado russo estavam o chanceler Sergei Lavrov e Yuri Ushakov, ex-embaixador em Washington e conselheiro próximo de Putin, ambos com mais de 20 anos de experiência no governo.

Trump esperou no Air Force One pela chegada de Putin, que pousou meia hora depois. Vinte minutos depois, ambos desceram dos aviões. O anfitrião chegou primeiro ao tapete vermelho. Putin o cumprimentou com um aperto de mãos. Enquanto um bombardeiro americano sobrevoava a base, jornalistas gritavam perguntas. Uma repórter perguntou se Putin iria parar de matar civis. Ele sorriu e apontou para a orelha, como se não tivesse escutado. Os dois seguiram para o carro presidencial americano, “A Besta”, e embarcaram sozinhos, sem intérpretes. Putin fala inglês o suficiente para manter uma conversa, o que aumenta o mistério sobre o que foi dito fora dos registros oficiais.

O simples encontro no Alasca já é visto como uma vitória para Putin, que volta a ter interlocução direta com o presidente americano em um palco global. Depois de Zelensky ter sido, digamos, desmoralizado em Washington, a recepção com honrarias a Putin promete inaugurar um novo alinhamento de forças.

Fonte da Matéria: g1.globo.com