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De férias relaxantes a desafios extremos: a nova onda do turismo de aventura

A gente tá nadando! Três quilômetros. Do Cabo Pelegrin, no nordeste da ilha de Hvar, na Croácia, até Palmizana. Água agitada, Palmizana parece só um pontinho distante, lá em cima das ondas. Chegando lá, ainda faltam 5 km! Um contorno na costa das Ilhas Pakleni, passando por enseadas e baías lindas, cheias de pinheiros. Mas, na real, minha atenção tá toda nas boias cor-de-rosa dos outros nadadores, lá na frente.

Estamos no UltraSwim 33.3, uma prova de quatro dias, 33,3 quilômetros ao longo da costa croata – a mesma distância de uma travessia do Canal da Mancha! Em pleno verão, o arquipélago fica lotado de turistas de Split, curtindo barcos e águas turquesas. Mas em maio, as praias estão desertas, a água tá gelada e só se ouve o barulho dos braços batendo na água.

Isso aqui faz parte de uma tendência gigante: férias baseadas em provas de resistência. Esquece o descanso, o foco é a transformação! Mark Turner, o fundador do UltraSwim, explica: “Queria criar algo que misturasse corrida, desafio e aventura nas férias. Há uma galera entre 40 e 60 anos que ainda busca desafios, mas também quer um bom hotel, boa comida e talvez levar o parceiro para conhecer a região. A travessia da Mancha é icônica, mas não é lá essas coisas. Aqui, a ideia é ter a mesma sensação de vitória, mas com águas cristalinas, paisagens incríveis… e uma taça de vinho no final!”.

O UltraSwim é só um exemplo dessa nova onda. Em vez de relaxar na praia ou conhecer uma cidade, cada vez mais gente prefere superar seus limites. Ultramaratonas de 171 km no Mont Blanc, corridas de 250 km no deserto marroquino, esquiar 220 km no Círculo Polar Ártico… a lista é enorme!

Alison King, uma arquiteta paisagista de 56 anos, de Londres, conta sua experiência: “Me inscrevi no UltraSwim 33.3 porque, depois de duas décadas cuidando dos filhos, eu estava com fome de viver!”. Alison, que nunca foi atleta, se sentiu intimidada pelos 12 km do dia mais longo. “Eu gosto de nadar, mas nunca tinha competido. Me senti uma impostora, mas consegui! Terminei forte, calma e eufórica. Foi assustador às vezes, mas a alegria de estar ali, conectada com as pessoas e o oceano… isso é inesquecível! Não foi só uma viagem, foi um recomeço.”

Essa sensação de transformação é comum nessas provas. A dor e o esforço são quase… espirituais! Gemma Morris, uma comissária de bordo de 41 anos que fez a Maratona das Areias (250 km no Saara), diz: “Foi a melhor e a pior semana da minha vida! Você corre muito, com calor infernal, dorme mal, vive com o mínimo. Mas há algo mágico naquela paisagem: o nascer do sol, o silêncio, as estrelas… A solidão te faz pensar, te conecta com você mesmo. E você valoriza as pequenas coisas!”.

Essas provas explodiram! O UltraSwim espera 600 participantes de 38 países em 2025, com a meta de seis a oito eventos e mais de 1000 nadadores em três anos. A UTMB World Series, circuito global de ultramaratonas, já reúne 200 mil corredores em 50 eventos lotados por ano. No ciclismo, a Race Across France cresceu de 300 para 1400 participantes em 2024, com percursos de 300 a 2500 km. E o swimrun (corrida e natação), criado na Suécia, está se espalhando pelo mundo.

Além do lado pessoal, esses eventos são ótimos para a economia e a cultura local. Michael Lemmel, co-fundador do ÖTILLÖ Swimrun World Series, explica: “Um evento com 250 pessoas gera cerca de €50 mil (R$ 322 mil) em gastos com comida e hospedagem. Mas, mais que isso, atrai um tipo de turista diferente, conectado com a natureza, com experiências ao ar livre, não só com a balada.”

Hvar, antes conhecida pela vida noturna, agora abraça essa nova identidade. Além do UltraSwim, recebe provas de ciclismo, corrida e natação. Iva Belaj Šantić, diretora do Conselho de Turismo de Hvar, afirma: “Esses eventos estendem a temporada turística e atraem visitantes mais engajados. Enriquecem a vida local também. Crescer em uma ilha pode significar ter acesso limitado a atividades. Esses eventos trazem visibilidade e inspiração, especialmente para os jovens. O motivo pelo qual o turista vem é tão importante quanto o que ele deixa para trás.”

Paula Reid, psicóloga especializada em aventuras, acredita que há uma explicação biológica para essa tendência: “Essas viagens oferecem um tipo de recomeço evolutivo. Evoluímos para caçar e coletar em grandes distâncias. A vida moderna é muito fácil, fisicamente pouco exigente. Mas somos feitos para o desconforto, o desafio, a adversidade. Precisamos disso para crescer.”

O resultado? Uma viagem que não só restaura, mas transforma. Você vê uma nova paisagem e, nela, se vê de forma diferente. E, para muitos, vale muito mais do que um drink à beira-mar.

Saindo da água na última etapa, em Hvar, o sol se põe. Meus ombros doem, o sal está na pele. Mas há algo triunfante na fadiga compartilhada, nos apertos de mão, nas risadas e na promessa de peixe e vinho. Viajamos para um lugar, e trabalhamos para conquistá-lo. E isso faz com que a lembrança dure muito mais.

**Dicas e treinamento:**

* **Preciso estar em ótima forma?** Muitos eventos são para amadores com preparação adequada. Verifique os pré-requisitos antes de se inscrever. No UltraSwim 33.3, precisa-se nadar 2,5 km em uma hora (em piscina) e já ter feito uma travessia de 5 km em mar aberto.
* **O que está incluído?** Os pacotes incluem acomodação, alimentação, equipes de apoio, transporte de equipamentos e segurança. O UltraSwim 33.3 oferece opção cinco estrelas. O kit da UTMB inclui checagem de equipamentos, chips, pontos de apoio e mapas.
* **Por onde começar?** Busque eventos para iniciantes ou provas de swimrun para iniciantes. Converse com um treinador ou entre para um clube.

Fonte da Matéria: g1.globo.com