Sexta-feira, dia 1º, foi um dia agitado na economia americana. Primeiro, o presidente Donald Trump mandou embora Erika McEntarfer, uma alta autoridade do Departamento do Trabalho, logo após a divulgação de dados decepcionantes sobre o mercado de trabalho. A acusação? Manipulação de números, sem provas, claro. Na real, a decisão gerou um baita burburinho e reacendeu as preocupações sobre a confiabilidade das informações econômicas do governo federal.
Olha só o que aconteceu: o relatório mostrou que a economia americana criou apenas 73 mil empregos em julho. Mas a coisa não parou por aí. As revisões dos meses anteriores foram ainda mais chocantes: 258 mil vagas a menos em maio e junho do que o inicialmente divulgado! Resultado? A taxa de desemprego subiu para 4,2%. Números péssimos, bem abaixo do que os analistas esperavam, e os piores desde a pandemia de Covid-19. Maio registrou apenas 19 mil vagas, e junho, míseros 14 mil.
Trump, no seu Truth Social, foi direto: “Precisamos de números precisos. Mandei minha equipe demitir essa indicada política de Biden, IMEDIATAMENTE! Ela será substituída por alguém muito mais competente”. A McEntarfer, indicada pelo ex-presidente Joe Biden, foi acusada de falsificar os dados. A Bureau of Labor Statistics (BLS), responsável pelos números, não se pronunciou sobre as acusações. Um funcionário da Casa Branca, que pediu para não ser identificado, disse que, embora haja variação natural nos dados econômicos, as revisões recentes foram excessivas, e a queda na taxa de resposta às pesquisas, um problema que começou na pandemia e continua sem solução, é preocupante. “Tipo assim, os mercados, as empresas e o governo precisam de dados confiáveis, e não é isso que estamos tendo”, afirmou a fonte. A taxa de resposta caiu de 80,3% em outubro de 2020 para cerca de 67,1% em julho. Uma pesquisa da Reuters mostrou que a maioria dos especialistas em políticas econômicas tem sérias preocupações com a qualidade dos dados americanos. Além disso, cortes de pessoal na BLS também afetaram a coleta de dados para o Índice de Preços ao Consumidor.
Essa atitude do Trump, claro, gerou um clima tenso. Michael Madowitz, economista-chefe do Roosevelt Institute’s Roosevelt Forward, foi categórico: “Politizar estatísticas econômicas é um ato autodestrutivo. A credibilidade é muito mais fácil de perder do que de reconstruir, e a credibilidade dos dados econômicos dos EUA é fundamental. Ocultar a realidade econômica do público nunca termina bem”.
Mas as surpresas não acabaram por aí. Na mesma sexta-feira, Adriana Kugler, governadora do Federal Reserve (Fed), anunciou sua renúncia. Essa notícia inesperada deu a Trump a oportunidade de influenciar o Fed antes do previsto, já que ele briga quase diariamente com o presidente Jerome Powell por causa dos juros. Trump já ameaçou demitir Powell diversas vezes. O mandato de Powell termina em maio de 2026, mas ele poderia ficar até janeiro de 2028. Com a saída de Kugler, Trump pode nomear um novo governador para o Fed, que poderia ser um trampolim para uma futura presidência do banco central. Entre os nomes especulados estão Kevin Hassett, Scott Bessent, Kevin Warsh e Chris Waller. Ao deixar a Casa Branca, Trump se disse satisfeito com a situação. Derek Tang, analista da LH Meyer, comentou: “Eu não diria que a renúncia de Kugler é politicamente motivada, mas a consequência é que Trump ganhou uma carta na manga. Ela passou a bola para ele, tipo: ‘Você tá pressionando tanto o Fed, quer controle sobre as nomeações? Então, aqui está uma vaga’”. O índice S&P 500 caiu 1,6%, sua maior queda em mais de dois meses, refletindo a tensão no mercado.
Fonte da Matéria: g1.globo.com