Crianças e adolescentes em busca de inclusão estão caindo em armadilhas digitais. Grupos no Discord, chamados de “panelas”, se tornaram palco de crimes terríveis, transmitidos ao vivo para milhares de menores diariamente. A delegada Lisandréa Salvariego, coordenadora do Núcleo de Observação e Análise Digital (NOAD) da Polícia Civil de SP, descreve a situação como assustadora: “Ali dentro acontece de tudo, gente! Desde incentivo à automutilação e cyberbullying até estupros virtuais e tentativas de suicídio. É de arrepiar!”.
O NOAD monitora essas plataformas para prevenir e investigar esses crimes. Em entrevista ao g1, a delegada explicou como funciona essa infiltração. Plataformas de jogos como Roblox e Minecraft são usadas como “isca”. Meninos e meninas são atraídos com promessas de popularidade e poder dentro das “panelas”, mas, na real, são chantageados para cumprir desafios humilhantes.
Mas tem esperança, viu? A delegada acredita que o diálogo é fundamental. “A gente precisa mostrar pra garotada que, no mundo digital, nem tudo que reluz é ouro. Nem todo mundo é quem diz ser”, afirma Lisandréa.
O Discord, em nota oficial, disse que “violência e atividades ilegais não têm lugar na plataforma ou na sociedade”. Eles alegam investir em segurança e moderação, removendo conteúdo impróprio, banindo usuários mal-intencionados e denunciando crimes às autoridades. A empresa afirma ainda manter diálogo contínuo com as autoridades brasileiras e colaborar com as investigações. O comunicado completo está ao final da matéria.
**Entrevista com a Delegada Lisandréa Salvariego:**
**g1:** O que são essas “panelas” do Discord?
**Lisandréa:** A maioria dos crimes digitais acontece em plataformas com pouca ou nenhuma moderação, e o Discord é um dos principais alvos. É uma plataforma que permite a criação de servidores, e esses grupos de adolescentes infratores chamam esses servidores de “panelas”, e se acham os “paneleiros”. Lá dentro, acontece de tudo, gente! Desde automutilação e cyberbullying até estupros virtuais e suicídios. É inacreditável!
**g1:** E quem são esses “paneleiros”?
**Lisandréa:** Dentro das “panelas” existe uma hierarquia. Esses jovens, adolescentes ou crianças buscam aceitação e pertencimento que não encontram na vida real. Tem níveis, sabe? Do moderador ao administrador e o “dono” da panela.
**g1:** Como funciona essa hierarquia?
**Lisandréa:** Os líderes criam desafios para os novos membros subirem de nível. A gente vê ao vivo pessoas se mutilando ou maltratando animais. Esse fim de semana, por exemplo, a gente presenciou uma cena horrível: uma garota sendo obrigada a matar o cachorro da família e… (a delegada interrompe, visivelmente abalada) …e fazer algo inominável com o animal. Eles cumprem esses desafios por chantagem ou em busca de status.
**g1:** Em 2025, ficou mais fácil cometer crimes virtuais?
**Lisandréa:** Muito mais fácil! Mas, ao mesmo tempo, ficou mais fácil identificar onde eles estão acontecendo, porque a internet deixa rastros. O Discord surgiu em 2015 focado em gamers, mas a falta de moderação e a interatividade da plataforma fizeram dela um ambiente perfeito para esses crimes.
**g1:** As pessoas não usam mais a deep web para isso?
**Lisandréa:** Quando começamos a investigar, imaginávamos que seria algo mais escondido. Mas tá tudo muito na superfície, acessível a qualquer um, em qualquer rede social, até nas mais moderadas. A minha mensagem aos pais é: fiquem de olho no que seus filhos consomem online! A molecada de hoje não usa mais o Google, eles usam TikTok, Instagram…
**g1:** Você falou do Discord, mas também mencionou o Roblox.
**Lisandréa:** Roblox e Minecraft são usados para atrair vítimas. No Roblox, qualquer um pode criar um jogo e atrair pessoas. Muitos pais pensam: “Meu filho está seguro, bloqueei o chat”. Mas não está!
**g1:** Como funcionam esses crimes?
**Lisandréa:** Criminosos criam jogos para atrair crianças e adolescentes. Eles são mestres em manipulação. Começam com conversas agradáveis, elogios, explorando a vulnerabilidade da vítima. Começa um namoro virtual, e quando a menina manda uma foto ou vídeo íntimo… acabou! Ela cai na armadilha da chantagem.
**g1:** Como é essa chantagem?
**Lisandréa:** Eles vasculham informações públicas, acham fotos dos pais, endereço do trabalho… Como a vítima vai acreditar que o vídeo não vai vazar? Aí, elas começam a se automutilar como forma de punição.
**g1:** São duas frentes diferentes?
**Lisandréa:** Nas “panelas”, temos dois tipos de desafios. Uns para subir na hierarquia, independente do sexo. Outros, mais focados em meninas, envolvendo crimes sexuais. Elas são extorquidas, ameaçadas, chantageadas. Tem “panelas” com três, quatro mil pessoas!
**g1:** Qual o perfil desses criminosos?
**Lisandréa:** Adolescentes ou jovens adultos, entre 18 e 19 anos. De todas as classes sociais. Isso dificulta o trabalho policial e a compreensão dos pais. Por isso digo: informação salva vidas! Já identificamos mais de 600 vítimas no Brasil.
**g1:** E o perfil das vítimas?
**Lisandréa:** 90% são mulheres, vítimas de crimes sexuais. Algumas são vítimas de um agressor, mas como muitas “panelas” têm vários líderes, elas acabam sendo vítimas de todos. E, às vezes, a vítima se torna agressora.
**g1:** Como essas vítimas são acolhidas?
**Lisandréa:** É crucial registrar o boletim de ocorrência com detalhes. O apoio psicológico é fundamental, mas isso fica a critério da família.
**g1:** Esse crime não tem fronteiras geográficas.
**Lisandréa:** Isso reflete a natureza da internet. A gente prendeu um cara na França que financiava ataques no Brasil. Nossa última operação foi em oito estados e no exterior. Mas é importante lembrar: na internet, não existe anonimato.
**g1:** O “estupro virtual” é comum?
**Lisandréa:** Sim, os tribunais já reconhecem o estupro virtual, sem contato físico. Basta coação ou chantagem para que a vítima seja exposta e obrigada a praticar atos sob ameaça, para satisfação sexual do agressor. A vítima é exposta em uma arena virtual, com várias pessoas dizendo o que ela deve fazer: se cortar, se expor, beber água do vaso sanitário… Eles se satisfazem com o sofrimento dela.
**g1:** Como as famílias podem evitar isso?
**Lisandréa:** Converse com seus filhos! Eles precisam entender que o mundo digital é perigoso. Precisamos de uma ação conjunta: governo, escolas, pais… Temos uma geração viciada em violência e conteúdo impróprio.
**g1:** Como a regulamentação das plataformas pode ajudar?
**Lisandréa:** Não precisamos esperar por novas leis. Quando um crime está acontecendo, precisamos acionar as plataformas imediatamente. Muitos canais de emergência não funcionam. A gente precisa de uma legislação que padronize e agilize esse processo.
**g1:** Dicas para pais e responsáveis?
**Lisandréa:** Observem o comportamento dos filhos. Isolamento, mudanças de humor, frases como “não aguento mais viver” ou “não sirvo pra nada”. Se o seu filho participa de “rituais de purificação”, segue conteúdo violento, se interessa por termos como “gore” ou “lulz”, procure ajuda. Crianças vítimas de crimes digitais muitas vezes procuram amigos, não os pais ou professores. Seu filho pode ser quem te conte.
**g1:** E voltar para o mundo analógico?
**Lisandréa:** Sim! Levem seus filhos para as ruas, para parques, para interagir com pessoas no mundo real. Mostrem que o mundo lá fora é legal!
**g1:** E como vocês, profissionais da segurança, lidam com isso?
**Lisandréa:** Temos apoio psicológico. É crucial não se dessensibilizar. Se algo parece normal, está errado. Procure ajuda se precisar.
**Comunicado do Discord:** (O comunicado original foi mantido aqui, sem alterações)
“Violência e atividades ilegais não têm lugar no Discord ou na sociedade. O enfrentamento desses grupos é um desafio complexo para todo o setor e exige soluções colaborativas proativas. O Discord conta com equipes especializadas dedicadas
Fonte da Matéria: g1.globo.com