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Gilberto Gil, um Buda Nagô, se despede de Preta Gil

A imagem de Gilberto Gil beijando a testa da filha, Preta Gil, durante o velório na sexta-feira, 25 de julho, comoveu o Brasil. As fotos e vídeos circularam intensamente nas redes sociais. A dor era visível no rosto do artista de 83 anos, ao se despedir da filha de 51 anos, morta no domingo, 20 de julho, em Nova York, vítima de complicações de um câncer colorretal diagnosticado em janeiro de 2023. Mas, sabe?, Gil exibiu uma serenidade impressionante.

Sentado diante do caixão, onde repousava o corpo daquela que sempre irradiou alegria, Gil encarnou a sabedoria de um mestre. Ele mesmo já se referiu a essa postura como “Buda nagô”, termo que usou em 1992 para homenagear Dorival Caymmi (1914-2008) na música presente no álbum *Parabolicamará*. Na real, Gil personifica esse “Buda nagô” há anos. Sua espiritualidade transparecia, como se ele tivesse a certeza de que a morte de Preta foi apenas uma passagem, um encantamento para outra dimensão.

Amigos, familiares e fãs gritavam “Força, Gil!”, tentando confortá-lo. Mas, talvez, o mais forte ali tenha sido ele mesmo. No foyer do Theatro Municipal do Rio de Janeiro – a cidade onde Preta nasceu e para onde Gil se mudou nos anos 1960, vindo da Bahia, como ele mesmo cantou em 1965 – a força de Gil era palpável. A compreensão de que o tempo é o grande compositor dos nossos destinos – como ele mesmo cantou em 1984 e Caetano Veloso, em 1979 – parecia guiá-lo.

Com a lucidez de quem crê na transcendência da alma, Gil, o Buda nagô, parece saber que Preta Gil vive para sempre. A reflexão serena dos mestres, diante da fragilidade da vida terrena, o conforta. A certeza da eternidade, o legado de uma filha de quem ele sempre teve orgulho, isso tudo o fortalece. E, nesse momento de dor imensa, a imagem de Gil, sereno e forte, nos deixa uma lição de vida.

Fonte da Matéria: g1.globo.com