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Tarifaço americano: Lula reclama de falta de diálogo com Trump e busca alternativas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tá reclamando bastante da falta de diálogo com o presidente Donald Trump sobre a tarifa de 50% aplicada pelos EUA a produtos brasileiros, que entra em vigor dia 1º de agosto. Na quinta-feira (24), Lula soltou o verbo: Trump “não quer conversar”, disse ele, apesar do Brasil estar de portas abertas para negociar.

Na real, um dia antes, Lula já tinha desabafado com assessores sobre a dificuldade de comunicação direta com a Casa Branca. As conversas, segundo ele, ficam presas na burocracia diplomática e não chegam ao principal interessado. O blog do Valdo Cruz deu um furo: a ordem de não dialogar com o Brasil partiu do próprio Trump. A situação é tão tensa que, a uma semana da data fatídica, uma comissão de senadores embarcou para os EUA numa tentativa desesperada de destravar as negociações.

Especialistas consultados pelo g1 concordam: a comunicação entre os dois países tá, no mínimo, ineficaz. Isso, sabe?, trava tudo. Um dos grandes entraves, segundo eles, é a política comercial americana sob o comando de Trump, que prioriza um forte viés geopolítico. As decisões sobre tarifas saem direto da cúpula, jogando no chinelo as equipes técnicas da diplomacia e do USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA), dificultando ainda mais qualquer acordo.

Além disso, tem outros interesses em jogo, como a disputa com a China pela influência na América do Sul, explica Alberto Pfeifer, coordenador do Grupo de Análise de Estratégia Internacional da USP. E, olha só, essa semana veio à tona o interesse dos EUA nas terras raras brasileiras – um assunto que promete esquentar ainda mais as coisas.

**A comunicação truncada entre EUA e Brasil**

O professor Amâncio Jorge de Oliveira, do Instituto de Relações Internacionais da USP, não tá nada otimista. Para ele, a comunicação tá “muito fechada”, impedindo qualquer avanço. “O isolamento existe, sim. É resultado de vários fatores, incluindo a falta de iniciativa do governo brasileiro, desde a posse de Trump, para abrir um canal de diálogo diplomático. Isso, junto com outras coisas, gerou esse afastamento”, explicou.

Leandro Lima, analista de risco político e professor da FGV, discorda um pouco. Pra ele, a culpa não é da incompetência brasileira, mas da forma como os EUA estruturam sua política comercial. A Casa Branca manda, e ponto. As equipes técnicas, como a diplomacia e o USTR, são ignoradas pelas decisões diretas da cúpula, geralmente com motivações geopolíticas. “Com essa política comercial, o Brasil enfrenta dificuldades em acessar os decisores-chave”, afirma Lima.

Nesta semana, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) disse que conversou por 50 minutos com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. O Brasil deixou claro o interesse em negociar a tarifa de 50%, mas Alckmin não deu detalhes da conversa. Ele apenas afirmou que Lula quer uma negociação focada na questão comercial, sem interferências políticas ou ideológicas.

Pfeifer, da USP, acha que o Brasil tem “quadros muito qualificados”, mas a política externa “deturpa o potencial brasileiro”. Ele ainda classificou como “patética” a decisão de enviar uma delegação de senadores aos EUA. “Mandar senadores, empresários… pra falar com quem? Sobre o quê? Não há visão coordenada. Não tem planejamento, não tem propostas”, criticou. E completou: “[É um erro] achar que Trump quer um acordo ganha-ganha. Pra ele, é ‘eu ganho e ganho de novo’. Se você perder, problema seu.”

José Luiz Pimenta, especialista em comércio internacional e diretor da BMJ Consultoria, lembra que a parceria entre Brasil e EUA é forte, mas que “faltou um aprofundamento técnico e estratégico para alinhar temas importantes para ambos os países”.

**Como a presença da China influencia o jogo geopolítico**

Pfeifer acredita que Trump não tá preocupado com o Brasil ou com Jair Bolsonaro (PL), mas sim com a China, com quem disputa influência na América do Sul. “O Brasil é uma peça no jogo global entre China e EUA”, diz ele. “E não é só o Brasil: é a posição estratégica do país, com acesso a três oceanos, rotas logísticas e espaço aéreo importantes.”

Em 9 de julho, ao justificar a tarifa, Trump citou Bolsonaro e chamou o julgamento do ex-presidente no STF de “vergonha internacional”, falando em “caça às bruxas”. Pfeifer diz que a mensagem de Trump foi clara: ele não quer negociar. “Quando ele atrela as tarifas à reversão do processo na Suprema Corte, algo inegociável, fica claro que não há espaço para negociação. Além disso, a tarifa aplicada ao Brasil foi a mais alta, sem justificativa econômica. Trump não se importa com Bolsonaro, mas sim com a China”, afirma.

**Depois da chantagem tarifária, EUA avisam que querem minerais encontrados no Brasil**

**Minerais estratégicos estão no radar**

Raul Jungmann, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), contou que Gabriel Escobar, encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil, manifestou interesse nos minerais críticos e estratégicos (MCEs) brasileiros. As terras raras, por exemplo, são essenciais para a geopolítica global, e o Brasil tem a segunda maior reserva mundial. Os EUA já fecharam acordos com Ucrânia e China sobre esses materiais.

Jungmann, ex-ministro da Segurança no governo Temer, disse que Escobar citou o assunto numa reunião com o setor privado. O Ibram, que reúne as principais mineradoras do país, é uma entidade privada sem poder de negociação com governos estrangeiros.

Com a transição energética e a disputa tecnológica entre EUA e China, a pressão sobre esses minerais cresce. O Brasil despertou o interesse americano, e o tema pode entrar na mesa de negociações. Lula, porém, já deixou claro que “ninguém põe a mão” nas terras raras brasileiras.

**Por que a pressão de empresários pode ser a saída**

Amâncio Jorge de Oliveira acredita que a pressão do setor empresarial pode ser uma saída. Ele sugere uma “coalizão empresarial” com líderes do setor privado do Brasil e dos EUA, incluindo importadores americanos e empresas americanas instaladas no Brasil. “A ideia é mostrar as perdas para os EUA – não só para o Brasil, mas principalmente para os EUA – para tentar reverter a medida”, disse. Ele alerta que retaliações antes da implementação da proposta seriam um erro.

José Luiz Pimenta, da BMJ Consultoria, também aposta na pressão do setor privado para mostrar os malefícios do aumento tarifário, como a alta da inflação nos EUA. Ele cita produtos como café, suco de laranja, aviões (Embraer), e madeira. Apesar de Trump alegar desvantagem comercial, o Brasil tem déficit comercial com os EUA desde 2009, o que desmente sua justificativa.

Fonte da Matéria: g1.globo.com