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** Lula reclama de “porta fechada” na Casa Branca: Negociações sobre tarifas com Trump emperram

** O presidente Lula (PT) tá reclamando alto da dificuldade de negociar com o governo Trump a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, que entra em vigor dia 1º de agosto. Na quinta-feira (24), ele soltou o verbo: Trump “não quer conversar” sobre o famigerado tarifaço. Lula deixou claro que o Brasil tá pronto pra negociar, mas precisa de reciprocidade dos EUA.

Um dia antes, em conversas reservadas, Lula desabafou sobre a falta de um canal direto com Trump. Segundo ele, as conversas diplomáticas existem, mas não chegam à Casa Branca. E olha só o que o blog do Valdo Cruz revelou: a ordem pra não dialogar com o Brasil partiu do próprio Trump! Pra piorar, nesta sexta (25), uma comissão de senadores embarcou rumo aos EUA numa tentativa de destravar as negociações, a uma semana do prazo final.

Especialistas consultados pelo g1 confirmam: a comunicação entre Brasil e EUA tá, de fato, engasgada, impedindo qualquer avanço nas negociações. Um dos grandes entraves, segundo eles, é a política comercial americana, fortemente influenciada por uma visão geopolítica sob o comando de Trump.

Na prática, as decisões sobre tarifas saem diretamente do topo da administração Trump, escondendo as equipes técnicas da diplomacia e do USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA). Isso complica tudo! Tem mais: Alberto Pfeifer, coordenador do Grupo de Análise de Estratégia Internacional da USP, aponta outros interesses em jogo, como a disputa com a China pela influência na América do Sul. E, pra completar o cenário, o interesse dos EUA nas terras raras brasileiras veio à tona essa semana. (Entenda mais abaixo).

**A comunicação truncada entre EUA e Brasil:**

Amâncio Jorge de Oliveira, do Instituto de Relações Internacionais da USP, vê o cenário com muito pessimismo. Pra ele, os diálogos estão “muito fechados”, travando as negociações, inclusive no nível diplomático. “O isolamento existe, sim. É resultado de vários fatores, incluindo a falta de iniciativa do governo brasileiro, desde a posse de Trump, em abrir um canal de diálogo diplomático. Isso, junto com outros fatores, levou a esse afastamento”, explicou.

Leandro Lima, analista de risco político e professor da FGV, discorda que a culpa seja da incompetência brasileira. Pra ele, o problema tá na forma como os EUA estruturam sua política comercial. A Casa Branca decide tudo, ofuscando o trabalho das equipes técnicas. “Dada a forma como a política comercial dos EUA é formulada, o Brasil enfrenta dificuldades em acessar os decisores-chave”, afirma Lima.

Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente, disse ter conversado por 50 minutos com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. Segundo Alckmin, o Brasil comunicou formalmente seu interesse em negociar a tarifa de 50%. Ele não deu detalhes, mas afirmou que Lula orientou para que a negociação seja focada na questão comercial, sem interferências políticas ou ideológicas.

Pfeifer, da USP, reconhece que o Brasil tem “quadros muito qualificados”, mas critica a política externa brasileira, que “deturpa o potencial brasileiro”. Ele ainda classificou como “patética” a decisão de enviar uma delegação de senadores aos EUA. “As ideias são tão patéticas. Mandar delegação de senador, de empresário… pra falar com quem? Sobre o quê? Não há visão coordenada, consolidada de contenção de danos, de barganhas… Nada disso!”, critica. “Achar que Trump tá aberto a uma negociação ganha-ganha é um erro. Pra ele, é ‘eu ganho e eu ganho de novo’. Se você perder, problema seu”, completa.

José Luiz Pimenta, especialista em comércio internacional e diretor da BMJ Consultoria, lembra que existe uma parceria sólida entre Brasil e EUA, mas avalia que “faltou um aprofundamento técnico e estratégico sobre como se alinhar em temas importantes para os dois países”.

**Como a presença da China influencia o jogo geopolítico:**

Pfeifer acredita que Trump não tá preocupado com o Brasil, nem com Bolsonaro, mas sim com a China, com quem disputa influência na América do Sul. “O Brasil é uma peça no cenário global, de interesse de duas partes em disputa hegemônica: China e EUA”, afirma. “E não é só o Brasil: é a preponderância desse espaço”, continua, citando a posição estratégica do país com acesso a três oceanos, rotas logísticas e espaço aéreo importantes para satélites.

Em 9 de julho, ao justificar a tarifa sobre o Brasil, Trump citou Bolsonaro e chamou de “vergonha internacional” o julgamento do ex-presidente no STF. A carta a Lula também mencionou uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro.

Pfeifer destaca que a mensagem de Trump foi clara desde o início: ele não quer negociar. Isso explica a dificuldade de comunicação do governo brasileiro. “Quando Trump atrela as tarifas à reversão do processo na Suprema Corte – algo inegociável, por afrontar a soberania nacional – é porque não há espaço para negociação. Além disso, ele impôs ao Brasil a tarifa mais alta, sem motivação econômica ou comercial, como fez com outros países. Isso estabelece um padrão de não negociação. A questão é que Trump não está preocupado com Bolsonaro, mas sim com a China”, conclui.

**Depois da chantagem tarifária, EUA avisam que querem minerais encontrados no Brasil:**

**Minerais estratégicos estão no radar:**

Raul Jungmann, presidente do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração), afirmou na quinta (24) que Gabriel Escobar, encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil, manifestou o interesse do governo americano nos minerais críticos e estratégicos (MCEs) brasileiros.

Os MCEs são centrais na economia atual e nas transformações futuras. Estão presentes em tecnologias de ponta, como chips, e são essenciais para a transição energética. As terras raras, um grupo de 17 elementos químicos, são fundamentais na geopolítica global. Os EUA já firmaram acordos com Ucrânia e China sobre esses materiais. O Brasil tem a segunda maior reserva mundial, atrás apenas da China.

Segundo Jungmann, ex-ministro de Temer, Escobar citou o tema em reunião com o setor privado. O Ibram é uma entidade privada, sem poder de negociação com governos estrangeiros.

Com a transição energética e a corrida tecnológica entre EUA e China, a pressão sobre essas cadeias de fornecimento aumenta. Daí o interesse dos EUA no Brasil – e o tema pode entrar na mesa de negociações.

Apesar de disposto a negociar o tarifaço, Lula foi resistente em relação às terras raras. Em evento na sexta, ele afirmou que “ninguém põe a mão” nos metais estratégicos brasileiros.

**Por que a pressão de empresários pode ser a saída:**

Amâncio Jorge de Oliveira sugere a criação de uma “coalizão empresarial” com líderes do setor privado do Brasil e dos EUA, incluindo segmentos da mesma cadeia produtiva, importadores americanos e empresas americanas no Brasil. “A ideia seria mostrar as perdas potenciais para os EUA – não só para o Brasil, mas principalmente para os EUA – para tentar reverter essa medida”, afirma Oliveira. “Antecipar uma retaliação seria um erro dramático. Mas nada indica que o governo vá partir para essa etapa antes de 1º de agosto”, completa.

José Luiz Pimenta, da BMJ Consultoria, também acredita que a pressão do setor privado, mostrando os malefícios do aumento tarifário (como a alta da inflação nos EUA), é o caminho. “É necessário o envolvimento de produtores de café, suco de laranja, aviões [Embraer], madeira, entre outros”, diz Pimenta, citando itens exportados para os EUA.

Apesar de Trump alegar desvantagem comercial, o Brasil registra déficits comerciais com os EUA desde 2009 – ou seja, há 16 anos. O país gastou mais com importações do que arrecadou com exportações, o que invalida a justificativa de Trump.

**(Imagem: Montagem mostrando Trump e Lula)**

Fonte da Matéria: g1.globo.com