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Ilha sem carros: Mackinac, onde cavalos reinam e o tempo parece parar

Mackinac, uma ilha no Lago Huron, em Michigan, EUA, parece saída de um conto de fadas. Imagina só: um lugar que, desde o fim do século XIX, proíbe carros! Isso mesmo, num estado conhecido como a “capital mundial do automóvel”, berço da Ford, GM e Chrysler, existe um refúgio tranquilo onde o transporte é feito, principalmente, a cavalo. E olha que não é só passeio, viu? Os bichos trabalham pesado!

Com seus 3,8 km², a ilha abriga cerca de 600 moradores fixos. Não tem carro, não tem moto, nem mesmo carrinho de golfe! Se você ouvir uma buzina por lá, provavelmente é um ganso ou uma coruja fazendo algazarra. A única rodovia da ilha é, acredite, proibida para veículos motorizados. “Aqui, o cavalo é rei”, garante Urvana Tracey Morse, dona de uma lojinha de artesanato na rua principal.

A história dessa proibição é curiosa. Diz a lenda que, lá por 1898, o estrondo de um escapamento assustou cavalos, levando as autoridades a banir os motores a combustão interna. Dois anos depois, a proibição se estendeu a toda a ilha. E assim, a vida segue num ritmo mais lento, mais calmo.

No auge do verão, a população explode! Cerca de 1,2 milhão de turistas chegam de balsa, vindos de Mackinaw City ou St. Ignace, na Península Superior de Michigan, para curtir a ilha. Eles saboreiam o famoso fudge, exploram os 110 km de trilhas e se encantam com a atmosfera bucólica.

“Os cavalos fazem tudo, desde a coleta de lixo até as entregas da FedEx!”, conta Morse, que começou a vender suas artes na ilha em 1990. “Esse é o nosso ritmo, sabe?”. Ela complementa: “A gente gosta da tradição: bicicleta, a pé ou táxi a cavalo. É a nossa vida!”.

A ilha, chamada Michilimackinac (“lugar da grande tartaruga”) pelos indígenas anishnaabe, tem uma história riquíssima. Por séculos, esses povos a utilizaram para pesca e caça. A localização estratégica, na confluência do Lago Huron e do Lago Michigan, sempre foi importante. E a história indígena permanece viva.

Eric Hemenway, um anishnaabe que atua na preservação da história local, explica: “A Ilha Mackinac é um dos lugares mais importantes da história e cultura anishnaabe. Estamos aqui desde tempos imemoriais. As águas eram, e são, nossas rodovias”. Aliás, foram encontrados diversos cemitérios indígenas na ilha, alguns com mais de 3 mil anos. “É um dos nossos locais mais sagrados nos Grandes Lagos”, destaca Hemenway, que também trabalhou na criação do Museu Nativo Americano da Ilha Mackinac, inaugurado em 2021.

No século XIX, Mackinac virou point de famílias ricas de Chicago e Detroit, que buscavam descanso nas águas cristalinas. O Grand Hotel, com seus 138 anos e varanda considerada a maior do mundo, é um dos últimos hotéis em funcionamento da Era de Ouro americana e um marco da ilha. A governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, inclusive, sugeriu a ilha como cenário para a quarta temporada de “The White Lotus”, da HBO!

Mas, apesar do charme e do apelo turístico, Morse não quer que a ilha se torne um destino superlotado. “A gente tem orgulho, mas não quer gritar para o mundo o quão incrível é aqui”, diz ela, rindo.

E, de fato, Mackinac tem muito a oferecer. 80% da ilha é Parque Estadual, com uma floresta secular, imponentes formações rochosas e trilhas para caminhadas, ciclismo e passeios de charrete. A Arch Rock, uma formação rochosa de 15 metros de largura, é uma das atrações mais fotografadas. Uma ciclovia de 13 km contorna a ilha, oferecendo vistas deslumbrantes da Ponte Mackinac e acesso a praias e bosques.

As 1500 bicicletas para aluguel são o principal meio de transporte para moradores e turistas, mostrando que, em Mackinac, a vida segue num ritmo diferente. Para Morse, que pedala nove meses do ano, isso é um dos grandes atrativos: “Adoro pegar minha bike e ir descendo pelas árvores. É um começo de dia incrível. E você sempre encontra alguém para conversar”.

Mesmo assim, os cavalos são fundamentais. “Sem eles, a ilha não seria o que é. É o que te faz sentir que voltou no tempo ao descer do barco e ouvir o som dos cascos”, afirma Hunter Hoaglund, da Arnold Freight, empresa que opera um serviço de balsa há 140 anos e transporta cavalos da Península Superior para a ilha em abril. Cerca de 20 a 30 cavalos ficam na ilha durante o inverno, garantindo a coleta de lixo, entregas e o funcionamento da ilha.

O inverno pode ser rigoroso, com blocos de gelo às vezes interrompendo a travessia de balsas. Mas, na primavera e no verão, a ilha floresce, com o Festival de Lilás, em junho, e oportunidades para observação das estrelas no Forte Holmes e no bar Cupola do Grand Hotel.

No fim das contas, Mackinac é um lugar mágico, onde o tempo parece ter parado, um convite para desacelerar e apreciar a beleza simples da vida, sem o estrondo dos motores.

Fonte da Matéria: g1.globo.com