A inteligência artificial (IA) tá bombando, né? Mas essa tecnologia, que a gente imagina toda “na nuvem”, tem um lado bem concreto: a infraestrutura física gigantesca que a sustenta. E essa infraestrutura, acredite, tá no centro de uma disputa geopolítica ferrenha entre EUA e China, principalmente pela corrida aos minerais críticos.
Olha só: data centers, a espinha dorsal da IA, são verdadeiras “fábricas” de processamento de dados. Eles precisam de toneladas de minerais raros, e isso tá criando uma baita pressão global. Em 11 de junho de 2024, o então presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou um acordo com a China: estudantes chineses em universidades americanas em troca de fornecimento desses minerais estratégicos, as terras raras, principalmente.
Mas não parou por aí. Trump também pressionou a Ucrânia, ameaçando cortar o apoio americano na guerra contra a Rússia caso o país não garantisse acesso preferencial a esses minerais aos EUA. Uau! A dependência mineral da China tá mexendo com os nervos americanos, sabe?
Por que tanto interesse nessas terras raras e outros minerais? Porque eles são essenciais para a construção de toda a infraestrutura da IA, além de aplicações militares, claro. A gente pensa em IA como algo imaterial, mas na real, ela depende de uma estrutura física enorme e complexa. Data centers, com milhares de equipamentos, são o exemplo mais claro disso.
No mundo, existem cerca de 12 mil data centers em operação, com 992 considerados de hiperescala – gigantes com mais de 929 m². Imagina o tamanho do “The Citadel Campus”, em Reno, Nevada: cerca de 669 mil m²! Essa estrutura toda precisa de servidores, redes, unidades de processamento, sistemas de armazenamento e refrigeração, fontes de energia, sensores e cabos… tudo feito com uma variedade enorme de minerais, muitos extraídos no Sul Global. Gálio, germânio, silício, tântalo, metais do grupo da platina, cobre, prata e ouro… a lista é longa! E a pureza desses materiais precisa ser altíssima.
A produção desses equipamentos é insana. Para fabricar um dispositivo eletrônico avançado, pode-se precisar de 50 a 350 vezes o peso final do produto em matéria-prima. E pior: o ciclo de vida desses equipamentos é curto, de dois a cinco anos, devido à rápida obsolescência tecnológica. Esse descarte constante gera problemas ambientais sérios e interrompe a reciclagem de metais valiosos.
A China domina a extração e o refino de muitos desses materiais essenciais para a IA, como antimônio, gálio, germânio e terras raras. Os EUA, por sua vez, lideram a manufatura, com sua alta tecnologia e propriedade intelectual. Essa disputa já dura anos, com sanções, embargos e restrições de ambos os lados. Em 2023, os EUA proibiram a venda de chips avançados para a China e restringiram o envio de equipamentos para a produção de semicondutores. Em novembro de 2024, a proibição ficou completa. A China respondeu restringindo a exportação de minerais críticos.
Trump, já em seu segundo mandato, anunciou US$ 500 bilhões em investimentos para a infraestrutura de IA nos EUA, incluindo a construção de 20 novos data centers, cada um com cerca de 46,5 mil m². Pouco depois, a empresa chinesa DeepSeek lançou o DeepSeek-R1, um chatbot concorrente do ChatGPT, da OpenAI. Apesar das restrições americanas, o DeepSeek-R1 teve um custo baixo e desempenho competitivo, causando perdas de cerca de US$ 1 trilhão no valor de mercado das empresas americanas. Isso mostra o quão estratégico esse setor é.
Mas a história não para aí. A IA consome muita energia. Redes neurais complexas e o fluxo gigantesco de dados exigem muita eletricidade. Uma simples interação com o ChatGPT pode consumir dez vezes mais energia que uma busca no Google. Imagine gerar imagens e vídeos!
Segundo a Agência Internacional de Energia, data centers, criptomoedas e IA consumiram 460 TWh de eletricidade em 2022 (2% do consumo global). A previsão para 2026 é de 620 a 1.050 TWh! Nos EUA, data centers já consomem cerca de 4% da energia nacional, podendo chegar a 9,1% até 2030. Em várias regiões, a demanda já supera a oferta, causando sobrecargas e riscos de apagões.
Grandes empresas de tecnologia estão investindo em energias renováveis (solar e eólica), mas isso também depende de minerais críticos. Uma usina eólica terrestre pode precisar de até nove vezes mais minerais que uma a gás, e as offshore, até quinze vezes mais. O mesmo vale para painéis solares. Para atender à demanda prevista dos data centers americanos até 2030, seriam necessários cerca de 50 milhões de painéis solares!
A expansão da IA apresenta desafios gigantescos, indo muito além da tecnologia. A gente precisa pensar nas implicações ambientais, sociais, econômicas e geopolíticas. Cientistas, sociedade civil, governos e empresas precisam entender essas inter-relações para criar estratégias que minimizem os impactos, principalmente se a expansão da IA continuar nesse ritmo acelerado.
*João Stacciarini recebe financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
*Ricardo Assis Gonçalves recebe financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PrP) da Universidade Estadual de Goiás (UEG).
Fonte da Matéria: g1.globo.com