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A Guerra Secreta pelos Minerais: Como a Fome por IA Está Reacendendo Disputas Geopolíticas

A inteligência artificial (IA) tá bombando, né? Mas essa tecnologia, que a gente vê como algo super abstrato – nuvem, big data, essas coisas – na real, tem uma base física gigantesca, faminta por recursos. E isso tá esquentando a geopolítica, principalmente entre EUA e China. Olha só: data centers, a espinha dorsal da IA, precisam de toneladas de minerais críticos, gerando uma verdadeira corrida global.

Em 11 de junho de 2024, Donald Trump, na época presidente dos EUA, anunciou um acordo com a China: estudantes chineses em universidades americanas em troca de terras raras. Isso, meu amigo, não foi um ato de gentileza. Trump também pressionou a Ucrânia para um acordo similar, ameaçando cortar o apoio americano à guerra contra a Rússia caso a Ucrânia não cedesse acesso preferencial a esses minerais. Por que tanta pressão?

Porque terras raras e outros minerais estratégicos são ESSENCIAIS para a IA. A gente esquece, mas aqueles algoritmos maravilhosos rodam em data centers – instalações enormes que abrigam milhares de equipamentos. Esses equipamentos, por sua vez, precisam de uma variedade absurda de minerais: gálio, germânio, silício, tântalo, metais do grupo da platina, cobre, prata, ouro… A lista é longa! Esses minerais precisam ser altamente purificados para atender às necessidades eletrônicas, ópticas e magnéticas dos equipamentos.

Imagina só: a produção de um dispositivo eletrônico pode exigir de 50 a 350 vezes o seu peso em matérias-primas! E, pior, esses equipamentos são substituídos a cada dois ou cinco anos, por causa da velocidade da obsolescência tecnológica. Isso gera um ciclo vicioso de extração, descarte – com riscos ambientais e de saúde – e nova extração.

A China, atualmente, domina a extração e o refino de muitos desses materiais, como antimônio, gálio, germânio e terras raras. Os EUA, por sua vez, lideram a manufatura, que exige alta tecnologia e propriedade intelectual. Essa dependência mútua, porém, virou palco de uma intensa disputa geopolítica.

Desde 2018, EUA e China trocam sanções e embargos. Em 2023, os EUA proibiram a venda de chips avançados para a China e restringiram o envio de equipamentos para produção de semicondutores. Em novembro de 2024, a proibição ficou completa. A China respondeu restringindo a exportação de minerais críticos.

Trump, em seu segundo mandato, anunciou US$ 500 bilhões em investimentos para a infraestrutura de IA nos EUA, incluindo a construção de 20 novos data centers gigantes. Pouco tempo depois, a DeepSeek, uma empresa chinesa até então pouco conhecida, lançou o DeepSeek-R1, um chatbot concorrente do ChatGPT, da OpenAI. Apesar das restrições americanas, o DeepSeek-R1 foi lançado a baixo custo e com desempenho competitivo, causando um prejuízo estimado em US$ 1 trilhão para empresas americanas.

Mas a disputa não se limita aos minerais. A IA é um monstro consumidor de energia. Uma simples conversa com o ChatGPT pode consumir até dez vezes mais energia do que uma busca no Google! Imagina gerar imagens e vídeos! A Agência Internacional de Energia estima que data centers, criptomoedas e IA consumiram 460 TWh de eletricidade em 2022 (2% do consumo global), com projeções de 620 a 1.050 TWh em 2026. Nos EUA, os data centers já consomem cerca de 4% da energia nacional, com previsão de 9,1% em 2030. Essa demanda já tá causando sobrecargas em redes elétricas e até apagões.

Grandes empresas de tecnologia estão investindo em energias renováveis (solar e eólica) para tentar resolver o problema. Amazon, Google e Microsoft já assinaram contratos bilionários. Mas, ironicamente, as energias renováveis também dependem de minerais críticos, e em quantidades ainda maiores do que as usinas tradicionais. Uma usina eólica offshore, por exemplo, pode precisar de até 15 vezes mais minerais do que uma usina a gás!

Em resumo: a corrida pela IA escancara uma complexa teia de desafios ambientais, sociais, econômicos e geopolíticos. Entender essas relações é crucial para que a gente possa construir um futuro com IA de forma sustentável e sem alimentar conflitos globais.

João Stacciarini recebe financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Ricardo Assis Gonçalves recebe financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PrP) da Universidade Estadual de Goiás (UEG).

Fonte da Matéria: g1.globo.com