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Filha de Beyoncé reacende debate sobre 'nepo babies': privilegiados ou estrelas em ascensão?


Adolescente brilha em turnê e coloca em xeque a crítica a filhos de famosos que ganham acesso privilegiado em áreas como cinema, moda e música. Blue Ivy, de 13 anos, foi considerada ‘a maior nepo bapor de todos os tempos’
Getty Images via BBC
Enquanto a maioria dos adolescentes de 13 anos passava a noite de segunda-feira preocupada com deveres de casa, paixonites escolares e o que postar no TikTok, Blue Ivy Carter se apresentava para um público de 70 mil pessoas ao lado da mãe, Beyoncé, na estreia da turnê “Cowboy Carter”.
As várias aparições da adolescente ao longo do show — especialmente sua performance solo durante “Déjà vu” — foram amplamente elogiadas.
“Ela deve ser uma das adolescentes mais disciplinadas dos Estados Unidos”, escreveu Chris Willman, da “Variety”. Nas redes sociais, fãs classificaram a jovem como o “maior nepo bapor de todos os tempos”, impressionados com sua coreografia impecável.
Ser um nepo bapor — apelido para filhos de celebridades que frequentemente ganham acesso privilegiado a carreiras em áreas como cinema, moda e música — já foi motivo de desprezo. Mas a apresentação de Blue Ivy pode estar complicando essa narrativa.
Ela teve acesso a um palco que muitos só podem sonhar. Ainda assim, entregou uma performance que agradou tanto ao público quanto à crítica.
Isso levanta a pergunta: trata-se apenas de mais uma filha de celebridade sob os holofotes sem merecimento ou estamos diante de uma estrela legítima?
‘Caminho facilitado’
Essa não foi a primeira vez que Blue Ivy se apresentou ao vivo. Ela subiu ao palco com Beyoncé há dois anos, na turnê “Renaissance”, e no ano passado dublou a personagem Kiara na animação “Mufasa: O Rei Leão” (2024), prelúdio de “O Rei Leão” (1994).
Para a jornalista musical Caroline Sullivan, a trajetória de Blue Ivy rumo ao estrelato “tem pouco a ver com ela mesma e tudo a ver com os pais”.
“É uma questão de o quanto gostamos ou não dos pais — Beyoncé é muito querida, então os fãs elogiam Blue Ivy”, diz. “Claro que ajuda o fato de ela ser boa no que faz, mas mesmo que não fosse, teria o caminho facilitado.”
Sullivan também aponta que o fato de Blue Ivy parecer estar no palco por vontade própria — e não por pressão da mãe — influencia positivamente a percepção do público.
Blue Ivy foi elogiada nas redes sociais por sua coreografia impecável na noite de estreia da turnê Cowboy Carter
Getty Images via BBC
Falando à BBC no mês passado, Tina Knowles, mãe de Beyoncé, afirmou que Blue Ivy e os irmãos estão sendo criados para fazer “aquilo que quiserem, sem serem forçados ao show business”.
Ela acrescentou que a neta precisou “se esforçar” para conquistar o papel na animação da Disney e revelou se preocupar com o impacto da fama sobre os netos.
Blue Ivy está longe de ser a primeira criança a dividir o palco com um pai ou mãe famoso.
Em 2023, a filha de Madonna, de 17 anos, tocou piano na turnê “Celebration”. A filha de Dave Grohl, do Foo Fighters, costuma cantar com ele em shows, e o filho de Phil Collins foi baterista na turnê do pai em 2019.
“Não é por ele ser meu filho que está na bateria. Ele está ali porque é bom o suficiente”, disse o ex-baterista do Genesis à época.
Para Sullivan, a participação de filhos em apresentações musicais pode ser “cafona ou constrangedora” se feita “só por fazer”. Mas, quando bem conduzida, pode ser “muito fofa e demonstrar muito afeto”.
Críticos como Tomas Mier, da “Rolling Stone”, disseram que o momento em que Beyoncé levou ao palco sua filha mais nova, Rumi, durante a música “Protector”, foi “um dos mais comoventes da noite”.
Beyoncé também levou ao palco sua filha caçula, Rumi
Shutterstock via BBC
A filha de Kim Kardashian e Kanye West, North West, de 11 anos, também começou a trilhar uma carreira musical. Recentemente, fez uma participação em japonês na música “Childlike things”, da cantora FKA Twigs.
Twigs explicou que escolheu North porque sua “energia é inspiradora” e ela demonstrava “muita confiança”.
“Eu não era assim quando criança. Era tímida, tinha medo do escuro, era muito diferente dos colegas. Percebi que adoraria ter tido uma amiga como a North, que sabia se posicionar”, disse a artista.
North também interpretou o jovem Simba no concerto comemorativo de 30 anos de “O Rei Leão” no Hollywood Bowl, mas sua performance vocal foi criticada nas redes.
“Como os pais dela são bastante polêmicos, acho que North West vai enfrentar mais resistência para se desvencilhar do rótulo de nepo bapor. A não ser que seja extremamente talentosa, será detonada”, afirma Sullivan.
North West, filha de Kim Kardashian e Kanye West, de 11 anos, começou a trilhar uma carreira na música
Getty Images via BBC
Em dezembro de 2022, uma reportagem de capa da revista “New York” sobre nepo babies causou alvoroço no mundo do entretenimento.
A imagem mostrava os rostos de atores famosos — como Dakota Johnson, Jack Quaid, Zoë Kravitz e Lily-Rose Depp — colados em corpos de bebês, com o título: “Ela tem os olhos da mãe. E o agente também”.
A reportagem defendia que “um nepo bapor é a prova viva de que meritocracia é uma mentira” e que “hoje, eles não só são abundantes — estão prosperando”.
A matéria foi criticada por muitas celebridades, que consideraram o rótulo injusto e desvalorizador de seus esforços.
Gwyneth Paltrow, filha da atriz Blythe Danner e do diretor Bruce Paltrow, disse que o termo é “pejorativo” e que filhos de famosos não deveriam ser julgados negativamente por seguir os passos dos pais. “Não há nada de errado em querer fazer o mesmo que seus pais fazem.”
Zoë Kravitz afirmou à “GQ” que é “totalmente normal trabalhar no negócio da família”.
Já Maya Hawke, de “Stranger things”, admitiu que um sobrenome famoso “traz enormes vantagens”, mas advertiu: “as chances não são infinitas — é preciso continuar entregando bons resultados. Se fizer um trabalho ruim, as oportunidades acabam”.
A atriz Kate Hudson, filha de Goldie Hawn e Bill Hudson, declarou ao “Independent” que as pessoas podem chamar como quiserem, mas que é natural que filhos sigam os caminhos dos pais — “isso não vai mudar”.
Kate Hudson é filha dos atores Goldie Hawn e Bill Hudson
Getty Images via BBC
E parece que Hudson estava certa. Três anos após a reportagem da “New York Magazine”, os nepo babies não desapareceram. Pelo contrário: continuam em evidência, sobretudo os que têm talento de fato.
Pam Lyddon, executiva de relações públicas da indústria do entretenimento, diz que “é inegável que ser bem conectado ajuda muito”, mas que “conexões só abrem a porta. Para permanecer, é preciso ter talento, trabalhar duro e ser resiliente — os resultados falam por si, e a reputação é tudo”.
Ela observa que, na nova geração de filhos de famosos, o talento é ainda mais essencial, porque o escrutínio é mais intenso e o público está mais atento. “Não dá para se esconder atrás da mediocridade.”
Com o reconhecimento cada vez maior a Blue Ivy, parece que a credibilidade dos nepo babies não foi abalada. E, se a estrela realmente brilha, ter Beyoncé e Jay-Z como pais pode ser só mais um impulso para alçar voo.

Fonte da Máteria: g1.globo.com