Imagine perguntar sobre Candeia para feras do samba como Martinho da Vila, Paulinho da Viola ou Teresa Cristina. A resposta? Só elogios! Sabe? Esse gigante do samba carioca, que faria 90 anos neste 17 de agosto, era um cara engajado, daqueles que deixaram sua marca. Pra comemorar, tem lançamento de single e show!
Um single do Leo Russo, com uma gravação inédita de “Preciso me encontrar” (1976) – um samba lindo e cheio de angústia, que fez parte do segundo álbum solo do Cartola – já tá bombando. E tem mais: um showzaço com as Matriarcas do Samba, marcado para o dia 23 de agosto, no Teatro Rival, no Rio de Janeiro. Isso é incrível! E, pra completar, uma biografia escrita pelo jornalista Vagner Fernandes vai trazer à luz a vida e a obra de Antônio Candeia Filho (17 de agosto de 1935 – 16 de novembro de 1978), um dos maiores sambistas de todos os tempos, sem dúvida nenhuma.
Candeia, compositor de clássicos como “Dia de graça” (1970), “Filosofia do samba” (1971), “Luz da inspiração” (1975), “O mar serenou” (1975), “Testamento de partideiro” (1976) e “Zé Tambozeiro” (parceria com Vandinho, em 1978), foi uma voz de resistência, um líder nato. Um dos seus feitos mais lembrados? A fundação do Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo, em 1975.
Olha só que coincidência: em 1975, o Brasil inteiro ouvia Candeia na voz inesquecível de Clara Nunes (1942 – 1983), a intérprete definitiva de “O mar serenou” (“O mar serenou quando ela pisou na areia / Quem samba na beira do mar é sereia”). Naquela época, Candeia estava meio desiludido com a Portela – escola onde brilhou em 1952, aos 16 anos, com um samba-enredo que garantiu a vitória da agremiação – e resolveu criar o Quilombo para mudar as regras do jogo, trazendo as verdadeiras tradições do samba para a avenida.
O nome “Quilombo”, já diz tudo, né? Mostra o orgulho negro do sambista, a vontade de manter vivas as tradições afro-brasileiras, principalmente no universo do samba. Candeia já estava nas rodas desde os anos 1950, mas sua força como compositor explodiu na década de 1970. Aposentado da Polícia Civil após um tiro em uma briga de trânsito em dezembro de 1966 – um ato passional que o deixou paraplégico –, ele tinha fama de ser impulsivo, às vezes até violento. Mas será que essa imagem não foi criada para esconder a sua luta política? Me parece que sim. Afinal, Candeia era um cara com consciência de classe, que sonhava com um mundo melhor, mais justo, e com um samba ainda melhor.
Pra quem quer conhecer a obra desse gigante, a melhor porta de entrada são os cinco álbuns que ele deixou: “Candeia” (1970), “Seguinte…: raiz” (1971), “Samba de roda” (1975), “Luz da inspiração” (1977) e “Axé!” (1978). Discos essenciais em qualquer coleção de samba, que atravessam gerações. A força social da música dele é um verdadeiro manifesto, mesmo sem ser panfletário. Acima de qualquer ideologia, os sambas de Candeia ficaram na memória do povo. E foi esse povo, do samba e da militância, que o tornou imortal.
Fonte da Matéria: g1.globo.com